O partido de extrema-direita Chega, agora a terceira potência em Portugal, enfrenta várias crises duas semanas antes do início da legislatura, com a demissão de um alto funcionário, o julgamento por difamação do seu vice-presidente e as distâncias a serem marcadas pelo primeiro-ministro português Ministro, o socialista António Costa.
O Chega, que teve um único deputado na legislatura anterior, terá 12 deputados no parlamento português quando a próxima sessão começar daqui a duas semanas, depois de ter obtido mais de 7% dos votos nas eleições de 30 de janeiro.
Agora a terceira força na Câmara, o partido liderado por André Ventura tem várias questões pendentes que preveem que sua relação com os demais partidos não será fácil nos próximos quatro anos.
PROCESSOS E DEMISSÃO
O partido acordou nesta quarta-feira com seu vice-presidente e deputado eleito, Pedro Frazão, na bancada por difamação de um ex-líder de esquerda.
Frazão escreveu no Twitter em novembro passado que o ex-líder do Bloco de Esquerda Francisco Louçã recebeu dinheiro do Banco Espírito Santo (BES), entidade falida em meio a irregularidades e com processos pendentes.
Louça levou o caso a tribunal, com julgamento a começar esta quarta-feira, exigindo que Frazão admitisse publicamente que mentiu.
A esta polémica junta-se hoje a demissão do secretário-geral do partido, Tiago Sousa Dias, que anunciou a sua saída numa publicação no seu perfil do Facebook devido a “desacordos”, sem explicar o quê.
“Não abro mão da liberdade de pensar por mim e me dedicar apenas ao que realmente me motiva”, escreveu Sousa Dias, que se juntou ao partido em maio de 2020.
DISTÂNCIAS DOS MERCADOS COSTEIROS
O Chega também tem de enfrentar as distâncias que os restantes partidos e o próprio primeiro-ministro em exercício, António Costa, estão a demarcar com a formação de extrema-direita.
Costa embarcou esta quarta-feira numa ronda de contactos com vários atores da sociedade civil, atores sociais e partidos para preparar a nova legislatura, mas o Chega ficou de fora dessas conversações.
O líder socialista justificou que estas reuniões se destinam a preparar o programa do futuro governo e conhecer melhor as prioridades dos diferentes partidos: “Não há acordo com o Chega, como tenho repetidamente dito durante a campanha eleitoral”, explicou em declarações à imprensa.
Costa admitiu ter tido audiências com a extrema-direita sobre questões institucionais, já que o Chega está “institucionalizado no parlamento”, mas não para procurar convergência política.
Esta atitude foi criticada pelo líder do Chega, André Ventura, que considerou que Costa estava a “ignorar” os mais de 385 mil eleitores que os apoiaram nas urnas.
Dificuldades também surgem no Parlamento, pois o Chega, como terceiro poder, tem o direito de nomear um vice-presidente da Assembleia da República, mas a nomeação deve ser aprovada por maioria dos deputados.
A esquerda já avisou que não apoiará essa nomeação, e Ventura ameaçou hoje recorrer da decisão ao Tribunal Constitucional, dizendo que a considera um “boicote institucional”.
“Estamos enfrentando um enfraquecimento da mente do legislador e vamos pedir ao Tribunal Constitucional que determine a viabilidade de tais situações no futuro”, disse ele a repórteres no parlamento.
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