Teatro: “Medindo o Impossível” de Tiago Rodrigues, ação humanitária no centro da tragédia do nosso tempo

Algumas noites no teatro são carregadas de emoção, com uma certa seriedade. Isso é especialmente verdade quando um programa está fortemente nas notícias. Na quinta-feira, 24 de fevereiro, a Rússia invadiu a Ucrânia, a guerra estava de volta à Europa. E Tiago Rodrigues apresentou a sua nova criação em Rennes, Até o impossível† Uma peça que transforma a ação humanitária em uma questão trágica, no sentido pleno de um conflito que não pode ser resolvido, mas deve ser vivido. A questão, sem dúvida, no coração do nosso trágico contemporâneo.

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Para compor esta peça, o autor e realizador português, que assumirá as rédeas do Festival d’Avignon em 2023, reuniu-se pela primeira vez em Genebra, onde Até o impossível estabelecidos, trabalhadores de ajuda humanitária servindo para o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) ou para Médicos Sem Fronteiras (MSF). Ele os ouve há muito tempo. No entanto, sua performance não é um teatro documental, mas um teatro documentado, baseado no desenho da realidade.

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Esse desenho assume uma aparência muito simples, que pode ser enganosa, pois o espetáculo é sustentado por uma profunda reflexão sobre o teatro e seus poderes. Nada espetacular aqui, na verdade. Os depoimentos são encarnados pela voz, pelo corpo, pela presença de quatro formidáveis ​​atores e atrizes, Adrien Barazzone, Beatriz Bras, Baptiste Coustenoble e Natacha Koutchoumov, acompanhados pelo baterista e percussionista Gabriel Ferrandini.

Mundo do “impossível”

Os campos de batalha aqui mencionados nunca são mencionados, mas são referidos pelo termo geral do mundo do “impossível”, em oposição ao do “possível”, em que vivemos em países protegidos da guerra. Podemos reconhecer facilmente o Afeganistão, Ruanda ou Síria aparecendo através da história e dos olhos das testemunhas encarnadas pelos atores. Sem nenhuma ilustração. A única evocação será a de uma grande tenda em lona leve como se vê em acampamentos e hospitais de campanha, que será erguida durante o espetáculo, mostrando o tempo, a paciência e o esforço.

Longe de viver como heróis, essas mulheres e homens apontam de forma muito concreta os dilemas impossíveis, os conflitos sem sentido, as situações que seriam grotescas se não fossem pura tragédia, o absurdo do acaso que existe do lado da vida ou da morte. Um deles se lembra do dia em que se viu com uma única bolsa de sangue e cinco crianças à beira da morte, entre as quais teve que escolher. Outra conta como ela foi abandonada, uma jovem humanitária inexperiente, para administrar sozinha um acampamento em completo caos, após um genocídio que entendemos ter sido o de Ruanda. Outra evoca aquele momento insondável em que uma jovem que acabava de perder seu bebê se inclinou para limpar a mancha de sangue do jaleco de seu médico.

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Chico Braga

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