Tal como o Thermomix, o Manchester City amassou, cortou, cortou, misturou e cozinhou o Sporting de Portugal. O público de Alvalade, enfeitado para a ocasião, não teve outra alternativa senão comer a rã, sentar-se e aguardar a hora de luto que se seguiu ao 0-4 da primeira parte. Uma tempestade de ações deslumbrantes, quase todas definidas com sucesso, quase todas presididas pelo pequeno Bernardo Silva, um jogador gigantesco, maior do que nunca visitando a cidade natal e o campo do rival duas vezes como benfiquista de berço.
0
Adán, Sebastián Coates, Gonçalo Inácio, Matheus Reis, Matheus, Ricardo Esgaio, Pedro Porro (Luís Neto, min. 81), João Palhinha, Sarabia (Bruno Tabata, min. 74), Pedro Gonçalves (Manuel Ugarte, min. 50) e Paulinho (Slimani, min. 74)
5
Ederson Moraes, Rúben Dias, Laporte (Aké, min. 84), Cancelo, John Stones (Zinchenko, min. 60), Bernardo Silva (Liam Delap, min. 84), Rodrigo (Fernandinho, min. 72), De Bruyne, Foden (Gündogan, min. 60), Sterling e Mahrez
metas 0-1 min. 6: Mahrez. 0-2 min. 16: Bernardo Silva. 0-3 min. 31: Foden. 0-4 min. 43: Bernardo Silva. 0-5 min. 57: Esterlina.
Juiz Srdjan Jovanovic
Cartões amarelos Matheus (min. 64), Gündogan (min. 73), Ricardo Esgaio (min. 77) e Manuel Ugarte (min. 82)
O Sporting acabava de vencer a Liga Portuguesa pela primeira vez em 19 anos. A passagem para a segunda fase da Champions significou a consolidação de um novo projeto. A festa, no entanto, durou apenas sete minutos. Foi quanto tempo levou para o City marcar o primeiro gol após uma jogada que definiu a identidade do time de Guardiola.
A festa ainda não tinha dono. As equipes estavam entrando em ação quando o City fez uma jogada aparentemente trivial que escondeu um tesouro. Um procedimento de sutileza e complexidade sem paralelo hoje. Mahrez ameaçou transbordar pela linha direita, jogou para De Bruyne no meio e o belga abriu para a esquerda. Foi aí que surgiu Cancelo, o ponta, que, em sincronia com Bernardo Silva, jogou uma bola para o espaço pela raia do ala. O lisboeta, que largou da posição interior, vacilou à beira do fora-de-jogo e invadiu o vazio. Se sua desmarcação desestabilizou toda a defesa, seu passe para o pênalti foi alvo do chute à queima-roupa de Foden, o falso nove. Adam estendeu a mão e a rejeição terminou em De Bruyne, que se juntou à avalanche até pisar na linha de fundo. Desta vez, o centro encontrou Mahrez e terminou em gol.
Sem um centroavante natural, o City fez da mobilidade e do senso de tempo de seus interiores a ferramenta mais poderosa para mergulhar no futebol. As corridas de De Bruyne e Bernardo Silva para a área rival parecem expressões de intuição superior. Eles são muito mais. São o culminar de um exaustivo trabalho de sincronização que já dura há anos e que em Lisboa atingiu uma espécie de apoteose.
A estrutura do Sporting, os seus três defesas centrais, os seus dois pivôs, os seus extremos laboriosos, avariaram-se com uma queda a cada desmarcação dos médios visitantes. Os zagueiros locais acharam impossível tirar as marcas e o sábio Palhinha não sabia a quem seguir quando Sterling se afastou de sua área para ir para o meio-campo e Bernardo Silva escorregou para o espaço que deixou.
pivôs esgotados
O 0-2 prolongou a confusão do Sporting à saída de um canto que o próprio Bernardo Silva empurrou para o ar, depois de um afastamento da defesa. Por esta altura, das bancadas de Alvalade ergueu-se o ei jude, hino não oficial dos torcedores do City. Os fãs expedicionários não saíram da nuvem. Se o Sporting cavou em alguma brecha para equilibrar o placar, após algum erro na circulação visitante, a resposta impecável e enérgica de Laporte e Dias, derrubou qualquer possibilidade de reabilitação.
Exaustos de tanto rebolar, Palhinha e Matheus Nunes, os pivôs do Sporting não conseguiram chegar às pontas quando De Bruyne teve tempo de mandar uma bola muito vantajosa para Mahrez. Duas filigranas do argelino permitiram a Foden, que passou por trás do rígido Coates, fazer o 0-3. Meia hora havia se passado e o empate começava a se resolver definitivamente. Bernardo Silva foi o responsável por desfazer as dúvidas quando fez o 0-4 após mais um passe e mais um desmarcação de Sterling, autor da assistência.
O próprio Sterling, após o intervalo, marcou o 0-5 num procedimento cujo segundo capítulo, o reservado ao Manchester, parece totalmente desnecessário.
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