« A Poesia de Portugal das suas Origens ao XXe século”, traduzido e editado por Max de Carvalho, edição bilingue, Chandeigne, 1892 p., €49.
O viajante que descobre a ilha de Ormuz, uma rocha perdida no meio do Golfo Pérsico, que deixa cair uma lancha com motor desproporcional na praia do porto iraniano de Bandar-Abbas, a poucos quilômetros de distância e engasga pelo menos tanto , espera não ser tão fácil de ser transportado do Irã – o Golfo é uma folha de mercúrio, gordurosa e pesada, cegando o sol; Hormuz, uma rocha vermelha, quente e seca, povoada por simpáticos bodes e Guardas Revolucionários cujos uniformes dão à paisagem o seu único tom verde. No entanto, na ponta, não muito longe do cais, no contraforte norte desta ilha bastante redonda, há uma antiga fortaleza, destruída três quartos; as grossas paredes de cascalho vermelho são guardadas em vão por canhões sem carruagens, em metal enferrujado, deitados na areia como gigantes desmembrados. É difícil imaginar que tenham sido colocados em bateria pelo próprio Afonso de Albuquerque no início do século XVIe século, quando o navegador português se instalou nesta ilha sem água, depois de negociá-la com as autoridades de Omã: que morada este seixo do deserto foi para estes soldados tão longe de Lisboa, que daqui supervisionavam o seu comércio! Você se pega sonhando, sob as arcadas abandonadas, que o grande poeta Luís de Camões (por volta de 1525-1580), seus olhos nas estrelas, acrescentou um capítulo persa ao Lusíades†
Afonso Lopes Vieira (1878-1946) reclama assim no seu Trágica nostalgia marítima † “Ela chora ao ritmo do meu sangue, o mar / Deitada na praia / Sonhando, eu escuto no fundo de mim / Um sonho que lembra / E alguém chora. † A viagem, o mar, o sonho de viajar e lugares longínquos, como as ruínas sonhadoras de balcões esquecidos e a presença oca do império, são um dos elementos mais fascinantes da poesia portuguesa, como nos parece na antologia A Poesia de Portugal desde as suas Origens até ao XXe século, editado e traduzido por Max de Carvalho. Há livros que brilham como relíquias em um santuário de ouro; obras que exalam antes mesmo de você abri-las, o cheiro dos prazeres que escondem. Percorremos esta coleção e pensamos nas Índias, Cabo das Tempestades, Lisboa, Coimbra, Porto e descobrimos neste imenso afresco quase 300 poetas que viveram entre o séc.e e o XXe século: oitocentos anos de história poética portuguesa. Um épico sobre heróis e monstros, como Ulisses, fundador de Lisboa, ou o gigante Adamastor, guardião do Cabo das Tormentas.
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