CIDADE DO MÉXICO (Reuters) – Os Estados Unidos anunciaram neste sábado uma flexibilização do embargo de petróleo contra a Venezuela diante do isolamento da Rússia, imediatamente após o anúncio da assinatura de um acordo entre o poder de Nicolás Maduro e a oposição no México.
O governo dos Estados Unidos autorizou a gigante petrolífera Chevron a retomar parcialmente suas extrações de hidrocarbonetos na Venezuela poucos minutos após o anúncio de um “segundo acordo parcial de proteção social para o povo venezuelano”, saudado pela comunidade internacional.
Em um comunicado à imprensa, o Departamento do Tesouro autorizou a Chevron a relançar parcialmente sua joint venture com a Petroleos de Venezuela (PdVSA, uma empresa estatal venezuelana). A Chevron deve, no entanto, garantir que “a PdVSA não receba nenhuma receita das vendas de petróleo feitas pela Chevron”.
Em outro comunicado de imprensa, a gigante do petróleo se comprometeu a respeitar o “quadro regulatório imposto”, confirmando ter recebido autorização para retomar parcialmente suas atividades na Venezuela.
Em maio, Washington já havia permitido à Chevron “negociar os termos de possíveis atividades futuras na Venezuela”, o que representou uma primeira violação do embargo petrolífero venezuelano imposto por Washington em 2019 na esperança de derrubar Nicolás Maduro.
Os Estados Unidos estão procurando novas fontes de hidrocarbonetos para compensar a perda de petróleo russo após as sanções impostas em resposta à invasão da Ucrânia pela Rússia. A Venezuela teria as maiores reservas do mundo, segundo alguns especialistas.
Em comunicado conjunto, Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido e Canadá “saudaram a decisão de retomar o diálogo” entre o regime socialista de Maduro e a oposição.
Um alto funcionário dos EUA chamou o acordo de “um passo importante na direção certa”.
Sem acordo nas eleições
Este diálogo representa “a esperança para toda a América Latina” e “o triunfo da política”, saudou o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard.
Simultaneamente às conversações na Cidade do México, Caracas acolhe desde segunda-feira a retomada das negociações entre o governo colombiano e o ELN (Exército de Libertação Nacional), considerado o último guerrilheiro ativo na Colômbia.
Basicamente, o governo e a oposição concordaram em tomar todas as medidas necessárias para liberar “fundos legítimos” pertencentes à Venezuela “que estão congelados no sistema financeiro internacional”.
Esse dinheiro alimentará um “fundo de proteção social do povo venezuelano” para atender às necessidades mais urgentes do país (sistema de saúde, rede elétrica, educação, resposta às recentes chuvas torrenciais que mataram quase 80 pessoas em outubro).
Para a concepção e gestão deste fundo, as duas partes solicitarão o apoio das Nações Unidas, segundo o acordo lido por um representante da Noruega, país mediador no diálogo intervenezuelano no México.
“Através deste acordo, economizaremos mais de três bilhões de dólares”, disse o principal representante do poder venezuelano, o presidente da Assembleia Nacional Jorge Rodríguez.
O fundo será gerido pela ONU “com um quadro programático de projetos e locais a realizar”, declarou o representante da oposição, Gerardo Blyde.
O presidente Maduro exige o levantamento das sanções econômicas americanas que atingem seu país, em particular o embargo às exportações de petróleo.
Por sua vez, a oposição venezuelana pede soluções para a “crise humanitária”, “respeito aos direitos humanos” e garantias de “eleições livres e observáveis”, afirma um comunicado da Plataforma Unitária nesta quinta-feira.
Não há consenso sobre estas eleições, que deverão ocorrer em 2024, segundo uma fonte familiarizada com o assunto consultada pela AFP na quinta-feira.
Em sua declaração conjunta, os Estados Unidos, a União Europeia, o Reino Unido e o Canadá exortaram ambas as partes a “mostrar boa vontade em relação a um acordo abrangente que leve a eleições livres e justas em 2024”.
A oposição acusa Maduro de ter sido reeleito em 2018 de forma fraudulenta.
A pobreza afeta oito em cada dez pessoas na Venezuela, de acordo com a pesquisa nacional Encovi sobre condições de vida publicada no início deste mês.
Sete milhões de venezuelanos deixaram seu país devido à crise política e econômica, especialmente desde a morte do ex-presidente Hugo Chávez em 2013.
O diálogo foi aberto em agosto de 2021 na Cidade do México, após tentativas que terminaram em 2018 e 2019.
Nicolás Maduro suspendeu as negociações dois meses depois, após a extradição para os Estados Unidos de Alex Saab, empresário venezuelano próximo ao poder processado por lavagem de dinheiro.
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