(Atualizado com toque italiano)
BRUXELAS/ROMA, 21 de junho (Reuters) – A incerteza reina antes da “minicúpula” sobre imigração marcada para domingo em Bruxelas, já que as prioridades de cada lado parecem irreconciliáveis.
Contrários às “quotas” de migrantes, os quatro países do Grupo de Visegrad – Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia – anunciaram que não iriam participar neste encontro.
Já o chefe do governo italiano, Giuseppe Conte, finalmente concordou em estar presente, afirmando ter obtido na quinta-feira da chanceler alemã, Angela Merkel, a retirada de um projeto de declaração da UE que Roma considerava inaceitável.
Esta reunião de crise, na presença de dez chefes de estado e de governo da UE, será realizada na sede da Comissão Europeia, o que suscitou o espanto do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban.
Antes do Conselho Europeu do final do mês, tratar-se-á de chegar a um acordo sobre a política migratória, uma prioridade para Angela Merkel enfraquecida pela revolta dos seus aliados bávaros da União Social Cristã (CSU), liderada pelo ministro do Interior Horst Seehofer.
Este último exige um reforço da legislação relativa aos requerentes de asilo. Na ausência de um acordo europeu até julho, defende em particular a expulsão da Alemanha dos migrantes já registados noutro país da UE, em total contradição com a política de abertura adotada por Merkel em 2015.
O governo de coalizão italiano, que reúne a Liga de extrema direita e o antissistema Movimento 5 Estrelas, se recusa a ver o retorno à Itália de dezenas de milhares de migrantes que seriam expulsos da Alemanha.
CONVERSA TELEFÔNICA ENTRE CONTE E MERKEL
O presidente do Conselho italiano, Giuseppe Conte, falou ao telefone com Angela Merkel na quinta-feira e aparentemente garantiu a retirada de um projeto de declaração da UE que incluía o retorno dos requerentes de asilo ao país de onde entraram na União, ou seja, frequentemente a Itália.
“A chanceler Angela Merkel acabou de me ligar. Ela estava preocupada com a minha possível ausência na pré-cúpula de domingo em Bruxelas sobre imigração”, escreveu Giuseppe Conte no Facebook, acrescentando que para ele o rascunho do comunicado à imprensa, tal como estava, era inaceitável.
“O chanceler deixou claro que houve um ‘mal-entendido’. O projeto de texto tornado público ontem será posto de parte”, acrescentou o chefe do Governo italiano, confirmando que se deslocará, por isso, a Bruxelas.
O executivo europeu precisou ter convidado “um grupo de Estados-Membros interessados” para esta reunião informal destinada a “trabalhar soluções europeias com vista ao Conselho Europeu” de 28 e 29 de junho”.
Os países europeus ainda não conseguiram chegar a um acordo sobre uma política comum de migração desde que mais de um milhão de pessoas migraram para a UE em 2015.
A divergência, ilustrada recentemente pela odisseia do Aquarius, navio recusado por Itália e França antes de ser aceite por Espanha, prende-se com a distribuição dos migrantes e os seus movimentos dentro da UE a partir do seu país de chegada.
SALVINI ACUSA ONG ALEMÃ
O comissário europeu para as Migrações e Assuntos Internos, Dimitris Avramopoulos, propôs na quinta-feira uma uniformização da legislação sobre o direito de asilo de forma a dissuadir os migrantes de se deslocarem de um estado para outro na União.
Deverá tratar-se também de reforçar a vigilância das fronteiras da UE e de ponderar a criação em países terceiros de “plataformas regionais” de gestão de refugiados e migrantes.
Ilustrando as tensões em torno da crise migratória, o ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, acusou a ONG alemã Mission Lifeline de ignorar conscientemente as instruções das autoridades italianas e líbias ao coletar 226 migrantes na Líbia na quinta-feira.
Ele pediu à tripulação do MV Lifeline, de bandeira holandesa, que os desembarcasse na Holanda, mas seu colega de Transporte Danilo Toninelli, chefe da guarda costeira, posteriormente considerou a distância muito grande.
“Assumiremos a generosidade e a responsabilidade humanitária de salvar essas pessoas e transferi-las para os navios da Guarda Costeira italiana”, promete em um vídeo publicado no Facebook.
Matteo Salvini anunciou este mês que navios de ONGs, acusados de cumplicidade com contrabandistas, não poderão mais atracar na Itália.
A Guarda Costeira da Líbia também resgatou 443 imigrantes africanos na quinta-feira que estavam à deriva em três grandes botes de borracha cujos motores falharam na costa oeste da Líbia. (Eric Faye, Guy Kerivel e Jean-Philippe Lefief para o serviço francês)
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