O líder da extrema-direita portuguesa prepara-se para aumentar consideravelmente o seu grupo parlamentar, o do partido Chega. Ele é anunciado como candidato à vitória nas eleições de 10 de março. Mas mesmo que este fosse o resultado, o partido Chega teria muitas dificuldades em formar governo.
Os eleitores portugueses são chamados a votar no dia 10 de março para eleger um novo governo, dois anos antes do previsto, porque o primeiro-ministro António Costa, apesar de ter maioria absoluta na Assembleia da República, acabou por se demitir ao saber que era o sujeito de uma investigação sobre um caso de suspeita de corrupção. Quem se beneficia mais com estas eleições antecipadas? A André Ventura, líder do Chega (“Chega!”), partido fundado em 2019 e que tem vivido uma trajetória política vertiginosa. Concorreu pela primeira vez nas eleições legislativas de 2019 e obteve 1,3% dos votos, elegendo um deputado, Ventura.
Ascensão eleitoral meteorológica
Em 2021, o mesmo Ventura concorreu à Presidência da República e obteve 12% dos votos, ficando em terceiro lugar. Nas últimas eleições legislativas, em janeiro de 2022, o Chega obteve 7,4% dos votos e elegeu 12 deputados.
A última sondagem coloca-a nos 16,5%, atrás dos 22,4% do PS e dos 24,3% da Aliança Democrática (AD), coligação dominada pelo Partido Social Democrata (PSD). A sondagem anterior tinha feito soar o alarme ao prever 19% dos votos para o Chega. Uma terceira sondagem dá ao Chega 15%, muito próximo dos 19% da AD.
O que faz Ventura funcionar?
O Chega é um partido racista, conservador e ultraliberal, embora seja sempre muito difícil saber o que defende, porque tenta dizer o que as pessoas querem ouvir. Não é por acaso que o seu primeiro programa, que defendia a privatização da saúde, da educação e da segurança social, ficou escondido para ser esquecido. Ele está a aproveitar a onda de extrema-direita que atinge a Europa e o mundo. Ventura mantém contactos estreitos com a família Bolsonaro, com Trump e a AfD na Alemanha, ou com Orbán na Hungria.
Em segundo lugar, a sucessão de crises políticas causadas por suspeitas de corrupção que atingiram o governo de Lisboa, bem como o governo regional da ilha da Madeira, estão a alimentar o Chega, um partido que sempre exibiu uma retórica anticorrupção. Quando, por exemplo, a polícia descobre 75 mil euros em dinheiro escondidos no gabinete do chefe de gabinete de António Costa, quem beneficia mais com esta descoberta? Ao André Ventura, claro.
Previsões difíceis
Com tantos imprevistos e um grande número de pesquisas indecisas, fica difícil fazer previsões. Será ainda possível uma vitória do PS com uma maioria de partidos de esquerda? Sim, mas a tendência atual não é essa. E se a AD ganhasse, com maioria relativa, e precisasse do Chega para formar governo? Luis Montenegro, líder do PSD, já declarou que não celebraria em caso algum acordo com o Chega. Foi isso que levou Mariana Mortágua, a nova líder do Bloco de Esquerda, a declarar em Ventura, durante o debate entre eles, que “ninguém quer sentar ao seu lado”incluindo os partidos de direita que Ventura acaba de descrever como “prostitutas políticas”. O líder do Bloco venceu claramente o debate.
Luís Leiria é editor da Esquerda.net
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