A maioria socialista que apoia o governo português de António Costa rejeitou quinta-feira uma moção de censura submetida à votação do Parlamento por uma pequena formação liberal para denunciar a cadeia de polémicas e demissões no seio do executivo.
Pouco depois do fim de um debate marcado por uma nova polémica sobre a secretária de Estado da Agricultura, que tomou posse apenas 24 horas antes, ela, por sua vez, demitiu-se.
O popular jornal Correio da Manha revelou esta quinta-feira que a governante teve as suas contas bancárias bloqueadas desde março passado, no âmbito de uma investigação de corrupção que visa o marido, ex-presidente da Câmara de Vinhais (nordeste).
“O secretário de Estado não foi acusado de nada. Ser casado com alguém que foi acusado representa um problema ético? “, no entanto, reagiu o primeiro-ministro no Parlamento, perguntando aos seus detratores se um governo
deveria ser avaliado “pela sua composição ou pelos seus resultados”.
A moção de desconfiança condenada foi apresentada pelo partido Iniciativa Liberal em reação à demissão na semana passada do ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, em constrangimento
por um processo em torno de uma indemnização de 500 mil euros paga a um ex-gerente da companhia aérea pública TAP nomeado poucos meses depois secretário de Estado do Tesouro.
O primeiro-ministro tentou acabar com a polémica ao anunciar uma mini-remodelação ministerial na segunda-feira, supostamente para garantir a continuidade da ação do seu governo no processo sensível da TAP Air Portugal, em
reestruturação total em troca de ajuda pública de 3,2 bilhões de euros.
Antes das suas polémicas mais recentes, um secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro teve de demitir-se em novembro, dois meses após a sua nomeação, por ter sido implicado num caso de peculato que alegadamente cometeu quando era autarca de Caminha (norte).
No poder desde finais de 2015, o Partido Socialista obteve uma larga vitória nas eleições legislativas antecipadas de janeiro passado, mas apesar da maioria absoluta que desde então o apoiou, António Costa falhou
para dar nova vida ao seu governo, tropeçando na pilha de casos complicados.
No total, o seu executivo já assistiu à saída de uma dezena dos seus membros em menos de um ano, tendo já sido confrontado em julho com uma primeira moção de censura apresentada pelo partido de extrema-direita Chega.
O principal partido da oposição, o Partido Social Democrata (PSD, centro-direita) absteve-se na votação de quinta-feira, mas voltou a exigir a demissão do ministro das Finanças, Fernando Medina, acusado de “inaptidão”
por nomear o secretário de estado por trás do “TAPgate”.
Na sequência da mini-remodelação divulgada na segunda-feira, o Presidente conservador Marcelo Rebelo de Sousa, que tem o poder de dissolver o Parlamento, alertou o Governo que a sua margem de manobra está a ser reduzida “Se não resultar, vamos tirar as consequências”.
APS
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