Pelo menos 4815 menores foram vítimas de abuso sexual dentro da igreja portuguesa. Essa é a principal conclusão deste relatório, escrito por seis especialistas independentes e dirigido pelo psiquiatra infantil Pedro Strecht. Este número é, sem dúvida, muito inferior à realidade. Este é o número “mínimo absoluto”, esta é a fórmula usada no relatório. A comissão trabalhou por um ano e ouviu mais de 500 depoimentos diretos. Ela voltou no tempo, até 1950. Ela estima que as vítimas eram meninos bem jovens, ou seja, 53%. E também as meninas, com 47%.
Em três quartos dos casos a violência sexual foi cometida por um padre e no outro quarto por outros membros da igreja. Todas as regiões do país são afetadas, com destaque para as grandes cidades de Lisboa, Porto, Braga, Leiria, Santarém. Os abusos muitas vezes aconteciam em confessionários e ainda mais em seminários e escolas católicas, “pontos negros” da pedofilia na Igreja. Este é o vocabulário utilizado no relatório. Os casos mais recentes foram levados a tribunal: 25 casos até agora. Mas a lista de vítimas e supostos perpetradores permanece confidencial. Consta de um anexo ao relatório, que será remetido à Conferência Episcopal Portuguesa.
O “ponto negro” dos seminários e escolas católicas
Este relatório é ainda mais importante porque Portugal é, portanto, muito católico: mais de 80% dos 10 milhões de portugueses descrevem-se como católicos. A queda é regular, era de mais de 95% há 50 anos. E praticantes regulares são apenas 30%. Mas continua significativo, uma das maiores porcentagens da Europa com a Croácia e a Polônia. De fato, o número de seminaristas aumentou ligeiramente nos últimos anos e a Igreja Católica ainda acolhe mais de 100.000 alunos ou estudantes em suas instituições. Esta situação explica sem dúvida a reação relativamente tardia da Igreja portuguesa a este tema da pedofilia, pelo menos um pouco mais tarde do que na Alemanha, Holanda ou França, onde recordamos o relatório da Comissão de Salvação de há um ano e meio. As testemunhas que se encontraram com os especialistas portugueses contam como é difícil falar sobre o assunto e o quanto tiveram a impressão de serem ignorados pela hierarquia católica. A Conferência Episcopal Portuguesa deve estudar o relatório em reunião extraordinária a partir de sexta-feira, 3 de março. E o Papa Francisco, que há quatro anos apelou a uma “luta total” contra este flagelo da pedofilia na Igreja, viajará a Lisboa no próximo verão para Jornadas Mundiais da Juventude. Ele deve encontrar várias vítimas lá.
O debate sobre a prescrição de crimes contra crianças
O relatório levanta ainda a questão da evolução da lei em Portugal e em particular a questão da prescrição destes crimes sexuais. A pena é de 15 anos para agredir menor de 14 anos e 10 anos para agredir adolescente entre 14 e 16 anos. O relatório publicado esta manhã recomenda aumentar a prescrição para 30 anos. Ele também propõe aumentar as penas, que agora podem chegar a até 10 anos de prisão. O resto, portanto, depende tanto da conferência dos bispos quanto do governo do socialista Antonio Costa.
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