Perante riscos sísmicos, Portugal e Espanha entre o medo e a prevenção


O recente terramoto em Marrocos reacendeu os receios de um grande terramoto na Península Ibérica, uma região em risco que procura proteger-se contra uma catástrofe da magnitude da que atingiu Lisboa em 1755.

Há vários meses que dezenas de trabalhadores trabalham dia e noite num enorme andaime que cobre os pilares e a parte inferior do tabuleiro central de um viaduto situado numa das principais vias de acesso à capital portuguesa.

Para além da sua renovação, o objectivo desta intervenção, que deverá estar concluída em Fevereiro de 2024, é “reforçar a estrutura anti-sísmica” da ponte rodoviária que atravessa o vale de Alcântara e a sua linha férrea, explica à AFP Helder Lourenço, gestor da gestora da rede rodoviária e ferroviária Infraestruturas de Portugal.

Este viaduto de concreto armado, construído na década de 1940, é utilizado diariamente por cerca de 134 mil veículos.

Mas foi só em 1983 que Portugal adoptou normas de construção anti-sísmicas mais exigentes. Desde então, o país adotou o Eurocódigo 8, normas europeias ainda mais rigorosas, atualizadas com conhecimentos científicos mais recentes.

Em caso de forte sismo, “os edifícios construídos antes de 1983 não estão preparados, e isto representa talvez metade das construções no sul do país”, região mais exposta a sismos, alerta o engenheiro José Paulo Costa, especialista em anti- construção sísmica.

– Museu imersivo –

Isto inclui construções essenciais como hospitais, quartéis de bombeiros ou pontes, acrescenta este especialista, sugerindo começar por reforçar estas estruturas “vitais”.

O grande terramoto de 1755, que arrasou “três quartos de Lisboa” segundo o relato de Voltaire no seu conto filosófico “Cândido”, continua muito presente na mente dos portugueses.

“Sabemos que é provável que volte a acontecer um terramoto em breve”, por isso “vim aqui para saber o que fazer”, afirma Ana Martins, manicure de 26 anos, após uma visita ao museu imersivo “Quake”, que mergulha os visitantes nos momentos dramáticos de 1º de novembro de 1755.

Este terramoto seguido de um maremoto, cujos violentos tremores foram sentidos até no norte da Europa, teve impacto mundial no século XVIII.

Depois varrida por um maremoto e devastada pelos incêndios que se seguiram, a cidade de Lisboa, que era na altura capital de um grande império colonial, já não recuperaria a posição de grande centro económico que então ocupava. .

Este sismo, cuja magnitude é hoje estimada entre 8,5 e 9 na escala Richter, atingiu também Cádiz, no sul de Espanha, e até Marrocos.

– Alertas de tsunami –

A catástrofe provocou entre 10.000 e 70.000 mortos em Lisboa, segundo diferentes estimativas, e mais de 2.000 em Cádiz, na Andaluzia.

Esta tragédia “está escrita na memória colectiva” e “sabemos que um sismo comparável certamente voltará a acontecer”, afirma Fernando Carrilho, especialista em sismos da divisão de geofísica do instituto meteorológico português.

Mas é impossível prever um terremoto, lembra ele.

Devido à sua localização geográfica, na fronteira das placas euroasiática e africana, denominada divisão Açores-Gibraltar, o território continental português, bem como o sul de Espanha, estão muito expostos.

Desde o século XVII, o sul da Península Ibérica sofreu outros sismos, como o de 1969 que causou várias mortes em ambos os países.

Perante este risco, Espanha e Portugal procuram preparar-se.

Depois de um exercício de simulação de terramoto em Marbella, no sudeste de Espanha, a cidade de Chipiona, na província de Cádiz, planeou um exercício de alerta de tsunami para 6 de novembro, no âmbito de um evento de iniciativa internacional organizado pela UNESCO em oito países.

A região da Andaluzia aprovou também em junho de 2023 um plano de combate aos tsunamis que abrange 800 quilómetros de costa e mais de 500 praias em 62 municípios.

Portugal e os seus arquipélagos dos Açores e da Madeira também possuem estações de alerta de tsunamis.



Marco Soares

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