No final de um laborioso processo legislativo, o Parlamento português votou, esta sexta-feira, 12 de maio, a versão final de uma lei que descriminaliza a eutanásia (ou seja, morte causada por um cuidador a pedido de um paciente). Portugal é hoje um dos raros países que permite que uma pessoa que sofre de uma doença incurável termine a sua vida.
A lei foi aprovada graças, em particular, aos socialistas que têm maioria absoluta: 129 deputados votaram a favor e 81 contra, dos 230 deputados da Assembleia. “Estamos a confirmar uma lei que foi votada diversas vezes por uma maioria muito forte”acolheu a deputada socialista Isabel Moreira, uma das principais vozes a favor da descriminalização da eutanásia.
Uma maioria parlamentar liderada pelo Partido Socialista, no poder, já se tinha pronunciado quatro vezes a favor da descriminalização da morte assistida nos últimos três anos. Mas o texto esbarrou então nas reservas do Tribunal Constitucional e do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, um católico conservador e fervoroso.
Para superar o último veto do chefe de Estado, que tem agora oito dias para promulgar a lei, os socialistas decidiram votar uma segunda vez o mesmo texto. Após a publicação dos decretos de implementação, a lei poderá entrar em vigor no outono, segundo estimativas citadas pela imprensa local.
O texto da lei foi várias vezes reformulado para ter em conta as declarações do presidente, que o vetou duas vezes, e depois de ter sido refutado, também duas vezes, pelo Tribunal Constitucional devido nomeadamente a“imprecisões”.
A nova versão da lei prevê agora que a eutanásia só é autorizada nos casos em que “O suicídio assistido por médico é impossível devido à incapacidade física do paciente.
“Um capricho dos deputados”
Para defender o seu último veto, Marcelo Rebelo de Sousa pediu aos deputados que especificassem quem estava autorizado a “certificar” desta impossibilidade. Mas desta vez os parlamentares recusaram-se a modificar o texto. As questões levantadas pelo Chefe de Estado podem ser esclarecidas “nos decretos de implementação da lei”, sublinhou Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda (BE, extrema-esquerda).
Se a lei for confirmada pelo Parlamento, “não é um drama” havia concedido o chefe de estado, acreditando que isso não levantava “sem problemas constitucionais”. Tanto para os defensores como para os detractores desta lei, a votação do Parlamento não porá fim ao debate público sobre este assunto divisivo num país com uma forte tradição católica.
“A adoção desta lei foi relativamente rápida em comparação com outros grandes países”, recebeu Paulo Santos, membro do movimento pela “o direito de morrer com dignidade”. Mas “a luta não termina aí” porque, observa ele, muitos médicos correm o risco de invocar uma objecção de consciência para não praticar a eutanásia, como alguns fazem em relação ao aborto, legalizado em 2007 por referendo. “Devemos esperar que a eutanásia provoque ainda mais resistência”, ele insistiu.
Por seu lado, os opositores à descriminalização da eutanásia lamentam que a questão não tenha sido objecto de referendo e esperam que o Tribunal Constitucional seja novamente apreendido pelos parlamentares da oposição. “É um capricho dos deputados que não quiseram ouvir ninguém”, argumentou José Seabra Duque, membro da Federação Portuguesa para a Vida.
A eutanásia e o suicídio assistido estão hoje autorizados num punhado de países europeus, como os do Benelux (Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo), os primeiros a autorizá-los, e a vizinha Espanha. Em França, o Conselho Económico, Social e Ambiental (Cese) afirmou no início da semana que era a favor da assistência activa aos que morrem. Emmanuel Macron anunciou na sequência da convenção de cidadãos sobre o fim da vida que esperava um projeto de lei do governo sobre o assunto, “até o final do verão ».
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