No início de novembro, as temperaturas no norte de Portugal começam a cair. O sol ainda brilha alto à tarde, mas ao nascer do sol mal sobe acima de 7°C ou 8°C. No seu apartamento de um quarto em Vila Nova de Gaia, perto do Porto, Fernanda Assembleia já treme. “O prédio está mal isolado, o período difícil está prestes a começar”diz esta jovem de quarenta anos, desempregada.
Para ligar o aquecimento? “De jeito nenhum: não é uma despesa prioritária”, ela estala, tentando esconder seu medo por trás de um sorriso triste. Com os 1.000 euros de assistência social que recebe mensalmente, mal consegue pagar os 600 euros de renda e despesas de subsistência dos seus cinco filhos com idades compreendidas entre os 6 e os 17 anos. “Devido aos preços altíssimos do supermercado, não consegui pagar o aluguel no mês passado. Quando fica muito frio, dormimos com os casacos nas camas. »
A poucos quilómetros dali, no Porto, Lourenço Gomes, um estudante de negócios, colou uma fita adesiva nas janelas do pequeno apartamento que partilha com um colega de quarto. “Caso contrário o céu vai passar e meu escritório vai ser bem pertinho dele”, ele explica. Em certos dias, os dois amigos ligam um pequeno aquecedor elétrico na sala comum. “Mas só se a temperatura lá fora cair abaixo de 10°C. De dezembro a fevereiro ficamos o mais tarde possível na universidade: lá é bom. »
Infiltração e umidade
Não se deixe enganar pela reputação ensolarada de Portugal: os invernos podem ser rigorosos, especialmente no norte e no campo. “Certamente, estes não são os grandes resfriados árticos, longe disso, explica João Jonaz de Melo, especialista em engenharia do ambiente pela Universidade Nova de Lisboa. Mas o nosso país enfrenta um enorme problema de pobreza energética: muitas famílias não conseguem aquecer as suas casas no inverno – e não as podem proteger das altas temperaturas no verão. »
De facto, segundo o Eurostat, 16,4% dos portugueses não conseguem aquecer-se adequadamente, contra uma média de 6,9% na União Europeia (UE). Apenas Grécia (17,5%), Lituânia (22,5%) e Bulgária (23,7%) são piores. E não é tudo: devido a problemas de isolamento, 25,2% dos agregados familiares sofrem de problemas preocupantes de infiltrações e humidade nas suas casas, contra uma média de 16,7% na UE. Apenas os cipriotas estão em pior situação (39,1%).
“O problema não é novo, mas a crise de energia e a inflação descontrolada pioraram e os próximos meses serão difíceis”, explicam Catia Santos e Elizabeth Santos, da sucursal portuguesa da ONG European Anti-Poverty Network (EAPN). A inflação atingiu um pico de 10,6% em outubro, incluindo 31% para eletricidade e gás, segundo o Eurostat.
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