Para o seu décimo aniversário, o Português Primavera Sound alinhou velhos e novos, fazendo as divisões entre Isabella Lovestory e New Order. Mas foi Le Tigre que fez o nosso fim de semana.
É um grande parque não muito longe da costa, a poucos quilómetros do Porto, a segunda cidade de Portugal. É um grande parque montanhoso onde cerca de 45.000 pessoas se reúnem todas as noites para comungar na maior frio. Não realmente pogos aqui, muito menos bate. Antes copos de vinho do Porto, pipocas, piqueniques improvisados na relva. Cinco cenas onde blockbusters históricos como New Order, Blur e Pet Shop Boys, mais recentes (Rema ou Rosalía), mas também artistas um pouco afiados com Isabella Lovestory, a nova estrela do reggaeton, Marina Herlop, a alienígena do experimental, e Yves Tumor, o roqueiro moderno que tem coragem de cantar de costas para o público, encolhido em um canto do grande palco ou abraçado a um alto-falante. No mesmo fim-de-semana realiza-se a primeira edição do Primavera Sound em Madrid, com o qual o Porto partilha muitas cabeças de cartaz. É aí que reside o segredo deste festival-bulldozer: marcar o mesmo grupo nos seus três festivais, em modalidade de colónia de férias musical no Sul da Europa.
O público é um pouco frio. Mesmo diante do Le Tigre, que, no entanto, oferece uma imensa performance ao vivo. Não tenhamos medo de palavras muito grandes, muito líricas. O que originalmente era o projeto paralelo de Kathleen Hanna, líder do Bikini Kill, tem o ardor intacto. Seu coque preto está no lugar, sua voz ainda aguda, seu vestido listrado bem passado. Mimo de feminilidade escorregadia. A mulher que enlouquece, ali na cozinha, enquanto mexia um pouco o molho para acompanhar a massa, ou o assado que saiu do forno. Ele gira. Mas uma mulher pode escapar da loucura? Uma boa pergunta que nos persegue ao longo do concerto do Tigre, pop que também aqui rola ladeira abaixo em cambalhotas, como se a melodia já não coubesse nas suas demasiado escassas roupas de Barbie. Tem que guinchar, tem que uivar.
karaokê gigante
O show é um karaokê gigante. Por fim, poderia ter sido um karaokê gigante se o público fosse menos gelado, mesmo que essa forma de recepção minimalista tenha seu charme em algum lugar. Então aí está, um karaokê gigante já que as letras das músicas são exibidas em uma tela ao fundo. Maneira de enfatizar sua importância. A repetição melódica, a repetição do discurso político, como uma martelada necessária. “Eu quero espalhar minha demência / eu quero acabar com isso.“Tem Kathleen Hanna, mas tem também JD Samson e Johanna Fateman, igualmente pilares do grupo que fez do electroclash um monumento feminista.
Karaoke rola até o tubo Deceptacon. E até Kathleen Hanna começar a pular corda. Jogo sobre os códigos do pop, da feminilidade. Reflexão sobre a infantilização da mulher e a estupidez do entretenimento. Ou é uma chamada real para deixar ir? Pular corda como quisermos? Maneira de rir, mas amarelo. Para se divertir enquanto faz caretas. Ser punk, finalmente. Um grande grupo que o Le Tigre, que tocou dois dias depois em Paris, em um Trianon desencadeado se formos acreditar nas histórias do Instagram que encheram nosso feed.
No Porto, New Order, Pet Shop Boys, Blur formaram um fantástico trio nostálgico. Marina Herlop ganhou o prêmio de mais bela confirmação. Mas foi Le Tigre que conseguiu transformar o electroclash feminista em um som absolutamente moderno.
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