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ASTANA: O Cazaquistão vota no domingo em eleições antecipadas que podem ver candidatos independentes eleitos como deputados, um sinal de uma tímida abertura democrática, apesar dos persistentes reflexos autoritários no maior país da Ásia Central.

As assembleias de voto abriram às 7h (01h GMT), notaram os jornalistas da AFP em Astana e Almaty, as duas principais cidades do Cazaquistão. Os cerca de 12 milhões de eleitores têm até as 20h, horário local, para votar.

Entre as novidades desta eleição, podem se apresentar candidatos não filiados a partidos, o que é inédito desde 2004. A cota mínima de ingresso na Majilis (câmara baixa do Parlamento com 98 deputados eleitos) foi reduzida para 5% e a cota de 30% para mulheres, jovens e pessoas com deficiência.

Essas mudanças reviveram um pouco a paisagem política anquilosada desta ex-república soviética fronteiriça com a Rússia e a China, ainda marcada pelos motins mortais de janeiro de 2022.

Na legislatura anterior, apenas três partidos estavam representados e todos apoiaram o presidente Kassym-Jomart Tokayev, que foi facilmente reeleito com mais de 80% dos votos em novembro em uma eleição sem nenhuma competição real.

“O sistema eleitoral mudou e dá a impressão de escolha. Mas, na realidade, o presidente e seu governo mantêm a contagem dos votos em suas mãos”, disse à AFP o cientista político Dimach Aljanov.

“Mantendo o Poder”

“Em um país autoritário, as eleições são feitas para manter o poder, não para substituí-lo”, observa Aljanov.

Estas eleições, que também dizem respeito aos parlamentos locais, ocorrem na sequência da reforma constitucional de 2022 conduzida por Tokayev, no poder desde 2019.

O dirigente de 69 anos mostra a vontade de “reiniciar as instituições do Estado” e “prosseguir a modernização” iniciada no ano passado neste país rico em recursos naturais.

Porque as fortes desigualdades e a corrupção não desapareceram e a inflação, superior a 20%, corrói o poder de compra dos quase 20 milhões de cazaques.

Tokayev também rompeu com seu mentor e predecessor, o onipotente Nursultan Nazarbayev, no poder por três décadas, após os distúrbios de janeiro de 2022.

Essas manifestações contra o alto custo de vida incendiaram o país, tendo Almaty como epicentro. Sua repressão matou oficialmente 238 pessoas.

Depois de uma campanha presidencial lenta em novembro, Almaty parecia acordar timidamente para estas eleições que coincidem com a chegada da primavera nesta cidade aninhada no sopé de imponentes montanhas.

“Tenho 20 anos, esta é a primeira vez que vejo novos partidos e candidatos independentes nas eleições parlamentares, para mim é novo”, disse à AFP a designer gráfica Adia Aboubakir.

Desejo de “acreditar nisso”

Nas vitrines de restaurantes, barreiras de construção ou postes de luz, cartazes eleitorais floresceram de forma anárquica.

E os slogans muitas vezes obscuros, como “a ordem é onde está a verdade”, “comigo não há bagunça” ou mesmo “eu não abandono o povo” acompanham programas pouco claros.

No total, sete partidos participam desta eleição, incluindo dois novos inscritos em pouco tempo. Mas vários partidos de oposição e candidatos independentes continuam proibidos.

“Gostaria de acreditar que minha voz pode mudar alguma coisa, mesmo que muitos não acreditem nessa modernização do sistema eleitoral”, diz Akbota Silem, jornalista de 21 anos.

O analista político Andrei Chebotarev, radicado em Almaty, estima que “no final destas eleições, quatro ou cinco partidos deverão estar representados no Parlamento”.

“Isso é benéfico para o poder, porque os partidos leais (ao presidente) estarão presentes no parlamento e o Amanat, o partido presidencial, manterá a maioria das cadeiras”, disse à AFP.

“Por outro lado, a diversidade de partidos terá um impacto na aceitação dos resultados eleitorais, tanto pela população como internacionalmente”, conclui o Sr. Tchebotarev.

Apesar desta relativa abertura, o Sr. Tokayev já alertou que “aqueles que semearem discórdia no país serão severamente punidos”.

Nicole Leitão

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