Mais do que uma associação de Estados, uma comunidade de pessoas

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é uma organização intergovernamental que reúne actualmente nove Estados: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Esses países são, antes de tudo, unidos pela língua. A CPLP, fundada em 1996, é um projeto político, baseado na partilha da língua portuguesa, cujo Dia Mundial se celebra a 5 de maio de cada ano, proclamado pela Unesco em 2019. A CPLP tem três eixos de atuação fundamental: político -consulta diplomática, cooperação e promoção e divulgação da língua portuguesa.
A consulta político-diplomática fortaleceu o potencial negociador de cada Estado Membro sobre questões internacionais atuais e a busca de soluções para crises. Esta consulta também permite aprofundar o diálogo institucional com os Estados, as organizações internacionais e os diversos parceiros. A CPLP tem contribuído para a estabilidade regional e tem capacidade para organizar missões de observação eleitoral.

A cooperação, dinamizada por instituições e organismos públicos e privados, está vocacionada para um vasto leque de temas: educação, economia, justiça, ambiente, cultura, assuntos sociais, mobilidade, saúde, energia, desporto e juventude, entre outros. Para dar alguns exemplos, existe uma colaboração regular entre os Tribunais Constitucionais, Ministros da Justiça, Procuradores-Gerais, Governadores dos Bancos Centrais, dirigentes militares, directores de polícia, organizações sindicais e universidades nos vários Estados membros.
O terceiro eixo é o da língua portuguesa. Uma de suas ferramentas é o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, responsável pelo planejamento e implementação de programas de promoção da língua. A adoção dos planos de ação de Brasília e Lisboa, em 2010 e 2013, contribuiu para a definição de estratégias globais nesse sentido.

No entanto, a CPLP é muito mais do que uma associação de Estados, é também uma comunidade de povos. Isso explica a existência, crescimento e dinamismo desta organização, presente em quatro continentes, sem que nenhum dos seus membros seja territorialmente contíguo a outro. O principal fator de afinidade é a linguagem comum. É uma língua de todos e uma língua de todos, porque tem variantes, que são enriquecedoras e que são parte vital do seu dinamismo. Basicamente, todos os estados membros da CPLP reconhecem o português como língua própria ou uma das suas línguas oficiais. Falar a mesma língua aproxima as pessoas, pois compartilhar uma língua significa compartilhar pensamentos, emoções, tradições e conhecimentos.
Outro fator de afinidade é a história. Embora tenha dimensões dolorosas, a longa história entre os países da CPLP deixou em cada um deles um património comum, material e imaterial, modos de ser, agir e organizar que são familiares aos nacionais destes Estados-Membros, que partilham recordações.

Os princípios fundadores da CPLP, incluindo a igualdade soberana dos membros, o respeito pela sua identidade nacional, o primado da paz, a democracia, o Estado de direito, os direitos humanos e a justiça social e a promoção de uma cooperação mutuamente benéfica, testemunham que a actual os processos políticos e sociais são outro fator de afinidade. Todos estes princípios são fundamentais para o bem-estar dos nacionais dos países da CPLP, uma bússola orientadora que orienta a rica e variada cooperação e tem um impacto positivo sobre estas pessoas.
Chamamos a atenção do leitor para dois acontecimentos recentes. Primeiro, a assinatura do acordo de mobilidade na cimeira de Luanda em 2021. O acordo é a base legal para facilitar a circulação de pessoas entre os países membros da organização. Este instrumento é um resultado evidente dos efeitos benéficos da CPLP no quotidiano das populações, sobretudo das gerações mais jovens. Em seguida, a prioridade da Organização para o período 2021-2023 é o reforço da sua dimensão económica, em particular o desafio de cooperar para a criação de emprego e geração de riqueza, objetivo para o qual é essencial remover obstáculos às empresas e aos trabalhadores.

Neste Dia Mundial da Língua Portuguesa, celebramos também a CPLP. Tendo como ponto de partida uma linguagem comum e um passado comum, a Organização tem os olhos fixos nos desafios do presente e do futuro. O seu objectivo é, em última análise, aprofundar o grande sentimento de pertença à mesma comunidade partilhado por cidadãos angolanos, brasileiros, cabo-verdianos, bissau-guineenses, equatoguinenses, moçambicanos, portugueses, santomenses e timorenses.

Baltazar Diogo Cristóvão, Embaixador de Angola
Julio Glinternick Bitelli, Embaixador do Brasil
Filomena Mendes Mascarenhas, Embaixadora da Guiné-Bissau
Bernardo Futscher Pereira, Embaixador de Portugal
Raul Aragão, Encarregado de Negócios de São Tomé e Príncipe

Chico Braga

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