Na Biblioteca Joanina, os morcegos circulam livremente entre as estantes do século XVIII. Não entraram: abriram as janelas para entrar.
Por alguma estranha razão nós amamos associar animais a bibliotecas† Chamamos as pessoas que gostam de ler de “ratos de biblioteca”, e há histórias de cães, gatos e até corvos, que vivem nesses santuários de livros há anos.
O mais famoso é definitivamente o bibliotecárioum orangotango de 2 metros de altura que administrava a biblioteca imaginária da Universidade Invisível, em Reserve o Discworld, pelo desaparecido Terry Pratchett. Eu só sabia dizeroooMas todos o entendiam.
No Biblioteca Joanina, na Universidade de Coimbra, não há orangotangos. Mas sim dezenas de morcegos que, todas as noites de primavera e verão, eles protegem os livros devorando os insetos que se aninham na biblioteca.
Construída em 1717 pelo Rei João V Magnânimo, a Biblioteca Joanina é um dos maiores expoentes do barroco português, segundo o site Centro de Portugal†
casas mais de 80.000 livros dos séculos XVII e XVIII, acumulando exemplares de extrema raridade, como uma primeira edição de os Lusíadasuma Bíblia hebraica publicada na segunda metade do século XV, da qual existem apenas cerca de 20 exemplares no mundo.
O a Bíblia latina de 48 linhasnomeada por exatamente 48 linhas por página, impressa em 1462 por dois associados de Gutenberg, considerada a melhor das quatro primeiras Bíblias impressas.
Há dois séculos, os porteiros da biblioteca joanina realizam um curioso ritual: quando termina a jornada de trabalho cobrem as mesas e livros mais delicados com panos de couropara protegê-los do guano, e todas as janelas abertas.
À meia-noite, dezenas de morcegos de orelhas compridas e morcegos urubu entram na biblioteca e devorar as centenas de mosquitos e outros insetos que entraram no recinto.
Ninguém sabe por que eles fazem isso, pois esses animais vivem em cavernas e fogem dos humanos. Talvez o motivo seja esse a biblioteca Joanina é construída sobre masmorras medievais, que ainda pode ser visitado. E dois dos três andares são subterrâneos.
O ponto é que morcegos limpam a biblioteca de insetosajudam a proteger os livros de carunchos e outros insetos que os estragam.
É uma relação mutuamente benéfica é assim há dois séculos.
Como em um clássico filme de terror, com a primeira luz da manhã os morcegos vão embora, deixando uma boa quantidade de guano para trásque os porteiros terão que limpar.
É o preço a pagar pela preservação da saúde dos valiosíssimos livros da biblioteca joanina, utilizando um método em harmonia com a natureza, que se mantém há quase dois séculos.
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