Em Portugal, toma posse o governo socialista de António Costa

14 de março de 2022, uma data importante na história contemporânea de Portugal. Naquele dia, este pequeno país da Europa Ocidental viveu mais tempo em uma democracia do que em uma ditadura. Um dia mais preciso do que sob o regime de Salazar, de 1926 a 1974. Uma fronteira simbólica temporária passou sem choque. Claro que foi uma coincidência do calendário que anunciava a composição do novo governo socialista, o terceiro de Antonio Costa, na época.

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Seu partido conquistou a maioria absoluta nas eleições parlamentares antecipadas de 30 de janeiro, eliminando vários meses de dificuldades políticas e institucionais. Primeiro foi a rejeição do projeto de lei de financiamento do ano em curso, a retirada do apoio objetivo da extrema esquerda, a dissolução da Assembleia Nacional e, em seguida, eleições antecipadas em meio a uma pandemia. E um adiamento definitivo com a repetição da votação nas eleições europeias após a descoberta do peculato.

O suficiente para jogar a toalha, mas Antonio Costa viu nisso uma oportunidade de liderar o Legislativo sozinho pelos próximos quatro anos. “Antonio Costa tinha anunciado que reconciliaria os portugueses se obtivesse maioria absoluta. E que abriria o diálogo”, explica Marina Costa Lobo, cientista política, especialista em questões eleitorais. As pesquisas lhe deram luz verde para liderar um governo por quatro anos que promete ser de continuidade em torno de partidários leais.

Uma Assembleia Nacional nas garras da agitação

O desatarraxamento da placa da facção parlamentar do Partido Popular, o CDS-PP, do muro da Assembleia onde esteve durante quarenta e sete anos marcou os fantasmas. O partido fundador da Democracia Portuguesa não elegeu nenhum delegado. “Seu eleitorado é muito disperso. O CDS-PP tem sido atormentado por disputas internas e tem sido caracterizado pela deserção dos barões do partido. Diante da proliferação de ofertas partidárias, seus eleitores falharam com ele.”continua Marina Costa Lobo.

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“O CDS-PP foi um dos pilares da democracia, mas os sistemas políticos estão mudando. Além do surgimento do Partido da Iniciativa Liberal (IL), com um discurso muito liberal, que cativou seus eleitores, o CDS-PP foi em grande parte engolido por sua luta fratricida interna., explica André Freire, professor de ciência política do Instituto de Ciências do Trabalho e Empresariais. O IL, que defende o ultraliberalismo econômico, passou de 1 para 8 delegados na nova Assembleia.

Extrema direita, 3e poder político do país

Mas a verdadeira surpresa da nova legislatura são os doze deputados do partido populista de extrema-direita Chega. O líder e único deputado, André Ventura, apostava em se tornar a terceira maior força política do país. Agora, do seu papel marginal, o Chega fez da afirmação um… “certo oponente” para António Costa. “É importante saber que nível de competência o Chega pode mobilizar para propor uma estratégia coerente. Até agora, tem sido uma parte volátil, com múltiplas mudanças de posição. Assistimos a uma espécie de bonapartismo liberal, que já está ultrapassado”.destaca o acadêmico André Freire.

Quanto ao primeiro-ministro, António Costa, cercou-se de tenentes leais para enfrentar qualquer eventualidade, e de personalidades principiantes, ou quase, para a política de campo. Um português “ao mesmo tempo”, um misto de ousadia e prudência. Com, para não deixar dúvidas, a pasta dos assuntos europeus nas mãos do chefe de governo. Um sinal dos tempos turbulentos que a Europa atravessa.

Chico Braga

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