Em Portugal “as rendas passaram de simples para duplas durante a noite” – Libération

Relatório

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Cada vez mais portugueses, incluindo a classe média, já não conseguem encontrar habitação devido aos preços elevados. Questionaram políticas a favor do turismo desenfreado e legislação que oferece pouca proteção aos inquilinos.

Lemos em seu rosto, embora benevolente, todo o sofrimento do mundo. Também na sua abordagem discreta. Ricardo, de 57 anos, parece questionar-se como chegou ali: embrulhado num enorme fato de treino azul-marinho no meio de um acampamento improvisado, num dos últimos espaços verdes de Cascais, um subúrbio rico de Lisboa. Além de sua caravana, impecavelmente arrumada e guardada por seu gato branco Pitusha, há apenas um chuveiro Quechua – uma espécie de cabana vertical erguida com um galão de água – e sua motocicleta Suzuki dos anos 80. “Eu não vi nada vindo” disse o velho jardineiro. O seu último pequeno trabalho data de 2021. Agora só recebe um apoio do Estado português de 210 euros por mês. Sua mãe e sua tia, com quem morava, morreram no início deste ano. “O proprietário aproveitou para fazer obras e impor um aluguel impossível.”

Deve tudo o que lhe resta a Paula, uma amiga de infância do seu bairro da Parede, não muito longe. “Tenho sorte de ter uma casa remunerada, um emprego estável, ela admite. Por isso levo alguma coisa todos os dias para ele: água potável, pilhas para carregar o celular, mosquiteiro, botijão de gás… Não vou abandonar meu amigo Ricardo de jeito nenhum! Só espero que não dure para sempre.” Foi ela quem comprou para ele esta caravana de segunda mão. Ela também encontrou um lugar para isso neste ambiente de pinhais e palmeiras

Alberta Gonçalves

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