Postado em 27 de outubro de 2021, 18h48Atualizado em 27 de outubro de 2021 às 20:01
A votação do orçamento ou eleições antecipadas. Foi a escolha perante a qual foram colocados os deputados portugueses, quarta-feira, no Parlamento de Lisboa. E tudo indica que o país caminhará em direção às urnas. Com 117 votos contra, 108 votos a favor e 5 abstenções, o projeto de orçamento do governo socialista não encontrou a maioria que procurava na esquerda. Apesar dos seus melhores esforços, o primeiro-ministro, António Costa, não conseguiu convencer os comunistas que o apoiavam até então, nem a extrema esquerda do Bloco de Esquerda.
Os dois partidos acusam-no de não ter conseguido afrouxar as políticas de austeridade herdadas da época da Troika. Criticam em particular a falta de pessoal dos serviços públicos, especialmente na área da saúde, e o fato de que a reforma trabalhista que havia sido imposta durante os anos da crise financeira não foi revertida. “As contas correctas garantiram a nossa credibilidade internacional”, respondeu António Costa para justificar a sua prudência orçamental.
Fraturas profundas à esquerda
“Agora não é hora de arriscar arruinar tudo, é hora de continuar a escolher um caminho equilibrado para a recuperação do país e a melhoria da vida dos portugueses”, defendeu em vão o ministro das Finanças, João Leão, defendendo o seu projecto de orçamento que iria integrar a chegada de fundos europeus.
Os dois dias de disputas parlamentares destacaram as profundas fraturas da esquerda e as frustrações enfrentadas por um governo que dialogou muito pouco com seus potenciais aliados. “O que era negociação virou imposição”, criticou o líder do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares.
Virando a página de anos de austeridade
Em 2015, António Costa tinha sido o grande arquitecto de uma inédita união de esquerda para derrubar a maioria conservadora, com a promessa de virar a página dos anos de austeridade que desesperaram as classes médias sem realmente reanimar a economia. Mas desta vez, ele não tem mais palavras para convencer. A perda da Câmara Municipal de Lisboa, passada à direita em Setembro passado durante eleições municipais marcadas por uma grande abstenção, constituiu um primeiro alerta para o desgaste do método Costa. Resta saber se ele será capaz de se recuperar e se reinventar.
Sem orçamento votado, o Parlamento caminha para a dissolução, lembrou o Presidente da República, o conservador Marcelo Rebelo de Sousa, alertando que não tentaria manter artificialmente um governo sem margem financeira.
Nas fileiras da direita, assistimos como espectadores o grande acerto de contas da esquerda e a derrocada do governo socialista. Mas a proximidade de eleições antecipadas não convém necessariamente aos conservadores do PSD, que actualmente se encontram sem um líder forte. António Costa pode ter aí uma nova oportunidade.
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