Como a cultura árabe-islâmica influenciou a América Latina moderna

Embora seu site aborde vários temas relacionados ao Islã, a história dos colonos muçulmanos portugueses – conhecidos como mouriscos, ou mouros – e sua influência no Brasil é um tema recorrente. “Muita gente não sabe que existem costumes no Brasil que vêm do mundo islâmico”, diz Peixoto.

As publicações deHistória Islâmica sobre a influência do árabe na língua portuguesa estão entre as mais compartilhadas pelos visitantes do site.

Alguns estudiosos estimam que de 700 a 1.000 palavras em português vêm do árabe, mas estudos recentes sugerem que esse número pode ser muito maior.

Várias palavras comuns no Brasil têm origem árabe, como alface (alface), almofada (primo), agudo (açougueiro) e garrafa (garrafa).

“Sem falar nos termos arquitetônicos que usamos até hoje, como alicercia (fundação) e andaime (andaimes)”, acrescenta Peixoto.

“As técnicas de construção ibérica eram essencialmente árabes no século XVI e foram trazidas para a América.”

Fonte de La Pila em Chiapa del Corzo (Foto, Governo do México).

A influência arquitetônica islâmica na América Latina é uma das características culturais andaluzas mais visíveis na região, segundo Hernan Taboada, especialista no assunto e professor da Universidade Nacional Autônoma do México.

“Ele se encontra no estilo arquitetônico da Nova Espanha, o vice-reinado que se estendeu do sul dos atuais Estados Unidos até a América Central”, explica. notícias árabes.

Assim como o vice-reinado do Peru, na América do Sul, esta região provavelmente hospedou a maioria dos colonos mouros na América Latina colonial, disse Taboada.

As igrejas da era colonial no México, de Veracruz, na costa atlântica, a Oaxaca, no sul, exibem características artísticas mouras.

Teto de madeira mudéjar da Catedral de Tlaxcala (Foto, Governo do México).

“Eles são particularmente visíveis nos elementos decorativos destas igrejas”, explica o Sr. Taboada. “Muitos templos no México são, sem dúvida, de estilo mourisco, o que não significa que tenham sido necessariamente construídos por mouros. Em geral, esses elementos foram assimilados na Espanha e transpostos para a América Latina.”

A presença de muçulmanos na Nova Espanha e em outros lugares da região não é fácil de verificar, na medida em que foi uma presença clandestina.

Talvez por isso o tema tenha sido ignorado por tanto tempo no meio acadêmico, embora obras clássicas da história latino-americana o mencionem nos séculos XIX e XX.

“O estudo da presença moura tem sido feito principalmente por muçulmanos e pesquisadores de origem árabe. Este trabalho mostrou que eles não são tão minoritários na América Latina quanto pensávamos”, destaca Taboada.

Embora o Islã seja proibido, os mouros – como os judeus – gozam de tolerância no Novo Mundo, embora às vezes sejam alvos da Inquisição, acrescenta.

O historiador Ricardo Elia, diretor cultural do Centro Islâmico da República Argentina, é um dos pioneiros no estudo da presença mourisca na região do Rio da Prata desde a década de 1980.

“Descobri que o gaúchos (termo usado na Argentina, Uruguai e sul do Brasil para se referir a cavaleiros lendários) não são senão mouros”, disse ele notícias árabes.

Ricardo Elia no Centro Islâmico (foto fornecida).

A origem etimológica deste termo na Argentina é objeto de uma antiga controvérsia. Alguns estudiosos dizem que vem de uma palavra quíchua, mas Ricardo Elia e outros estudiosos acham que vem de chauchum termo de origem árabe que designa aquilo que é indomável.

“Em Valência, na Espanha, a palavra chaucho era usado para se referir a cavaleiros e pastores”, diz Elia, que acrescenta que a maioria das tripulações dos navios espanhóis que exploraram as Américas desde o século XV eram mouros, e que a primeira pessoa a avistar as Américas foi Rodrigo de Triana, um mouro.

“Eles precisavam sair da Espanha e vieram para as Américas. E eram bons marinheiros.”

Ao longo dos séculos, os mouros se misturaram com outras etnias, como os guaranis, mas seu impacto cultural na região ainda hoje é sentido.

Segundo o Sr. Elia, o empanadasa típica pastelaria argentina, têm origem andaluza, tal como o Doce de leite (leite caramelizado).

A influência linguística do árabe na língua espanhola é indiscutível. O Sr. Elia estima que existam cerca de 4.000 arabismos, a maioria dos quais foram adotados na Espanha.

Empanadas argentinas (Foto, Prefeitura de Salta).

“Mas na Argentina e no Uruguai os mouros também influenciaram a forma como pronunciamos as palavras”, acrescenta.

Há vários anos, o Sr. Elia ministra cursos em universidades argentinas e chilenas sobre a presença dos mouros na América do Sul.

“Infelizmente, a comunidade de origem libanesa e síria na Argentina nunca demonstrou muito interesse por esses temas. Os argentinos não árabes sempre foram os mais curiosos sobre isso”, diz Elia, ele próprio de família libanesa.

Segundo ele, cada vez mais pessoas querem conhecer os primeiros colonos muçulmanos da América Latina.

“Em Marrocos, foi organizada uma conferência universitária dedicada a este tema em 2021.”

Torre Mudéjar em Cali (Foto, Município de Cali).

Peixoto diz que muitas pessoas “querem aprender sobre seus ancestrais e as muitas perguntas não respondidas”, e é por isso que uma nova geração de estudiosos voltou sua atenção para os mouros da América Latina.

Ele pretende fazer um estudo acadêmico sobre os mouros no Brasil, publicar livros sobre o assunto e oferecer cursos online.

“A nossa elite (no Brasil) gosta de se pensar como europeia, mas somos uma mistura de indígenas, africanos, europeus mas também mouros”, sublinha.

Peixoto acredita que os muçulmanos e os árabes deram uma grande contribuição para a constituição do povo brasileiro, não só com os colonos que vieram da Andaluzia, mas também com os africanos trazidos como escravos e a grande onda de imigrantes sírios e libaneses que chegaram no Brasil desde o final do século XIX.

“Eles transformaram nosso jeito de ser de várias maneiras”, diz.

O Sr. Taboada também é desta opinião: “A elite latino-americana exibe principalmente um ponto de vista eurocêntrico. Devemos insistir no fato de que temos uma origem multicultural”, garante.

Este texto é a tradução de um artigo publicado no Arabnews.com

Nicole Leitão

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