A Árvore Mágica de Joana Vasconcelos

PMais de treze metros de altura, uma copa de cinco metros, ramos de alumínio cobertos com quase 110.000 folhas cintilantes… A árvore que Joana Vasconcelos vai plantar na capela do Château de Vincennes não passará despercebida. Esta obra monumental deve causar tanta sensação quanto a que foi apresentada ao grande público na Bienal de Veneza de 2005. Durante este evento, o artista invadiu a cena artística com um lustre, intitulado A noiva“La Fiancée”, cujas vidrarias foram substituídas por tampões femininos!

A artista plástica portuguesa adora palácios. “São caixas que cabem em mim”, diz ela com um sorriso. Em 2012, ela foi tema de uma primeira retrospectiva em Versalhes. Portanto, este ano é em outra residência real que ela se prepara para apresentar este Árvore da Vida, cuja ideia lhe ocorreu, diz ela, quando visitou a Villa Borghese, em Roma, seis ou sete anos atrás. “O motivo foi o encontro com uma estátua de Bernini. Um lindo mármore que mostra como Daphne se transforma em loureiro para escapar do casamento que Apolo lhe oferece”, explica.

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Vários símbolos

A mensagem feminista deste episódio mitológico, em que uma mulher recusa a união com um deus para preservar a sua liberdade, tinha tudo para seduzir Joana Vasconcelos. Suas obras, quase todas, não contêm um discurso emancipatório? Pensa-se em seus monumentais escarpins Marilyn feitos de utensílios de cozinha ou este helicóptero decorado com penas teria permitido a Marie-Antoinette escapar de seu destino “mapeou tudo”.

LEIA TAMBÉMA entrada real de Joana Vasconcelos entre os últimos reis portuguesesJoana Vasconcelos havia planejado primeiro plantar uma pequena árvore ao lado do mármore de Bernini que completaria o processo de metamorfose de Daphne. “Achei muito divertido incluir tal instalação na residência do cardeal Scipione Borghese. Infelizmente, o projeto não pôde ser executado na época”, confidencia.

Homenagem a Catarina de Médici

O Ano França-Portugal, organizado no ano passado pelo Instituto Francês, permitiu-lhe tirar das caixas esta ideia da escultura… expandindo-a um pouco. “Durante a quarentena, pedi para minhas assistentes fazerem folhas de tecido em casa, só para me manter ocupada. Eu sabia que essa árvore um dia veria a luz do dia”, lembra ela. A ordem do Centre des Monuments Nationaux para instalar uma de suas esculturas dentro das paredes do Château de Vincennes aumentou as coisas.

“A história deste palácio é habitada por muitas árvores”, diz o artista. Jean-François Chougnet, curador da exposição, cita os três mil olmos como a rainha Catarina de Médici plantada quando seu marido morreu. Mas segundo a lenda, no mesmo recinto, São Luís pronunciou a justiça à sombra de um grande carvalho.

“Instalar esta árvore na própria capela pareceu-me óbvio quando tomei conhecimento dos motivos representados pelos vitrais”, acrescenta Joana Vasconcelos. A Sainte-Chapelle (que, apesar do nome, nunca foi canonizada) é uma das poucas igrejas da França a evocar cenas do Apocalipse em seus vitrais. “Achei interessante ter uma visão oposta dessa descrição do fim do mundo, introduzindo um elemento do Gênesis”, continua ela.

Uma dimensão ecológica

Uma alusão direta à “árvore do conhecimento” no Jardim do Éden, de onde Eva acaba por colher o fruto proibido, este motivo vegetal abre uma porta a questões caras ao artista. “A figura da árvore é extremamente poderosa. Simbolicamente, os ramos respondem simetricamente às raízes. Seu tronco é como um hífen entre o céu e a terra. Ele carrega as três dimensões que exploro em meu trabalho: o mundo físico, o universo mental e esse reino espiritual que ocupa grande parte da minha vida”, ela foge. Se seu trabalho não copia uma certa essência, o fato de seus panos e folhas de couro serem decorados com pequenas protuberâncias indica claramente essa preocupação espiritual, diz ela.

Numa altura em que a desflorestação está a minar os pulmões verdes do planeta, Joana Vasconcelos apoderou-se deste símbolo com tanto mais entusiasmo porque diz manter fortes laços com as árvores. “Plantei uma linda palmeira no terreno da minha casa em Belém e falo com três ciprestes todos os dias. Aprendi a importância do diálogo com as árvores em um curso de xamanismo perto de Montpellier. Meu jardineiro Antonio fica surpreso quando eu digo a ele que foi isso que salvou uma daquelas árvores desperdiçadas. Mas sou daquelas pessoas que acham que podemos nos conectar com a energia que o mundo vegetal emite”, comemora.

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Diálogo com as árvores

Em todo o caso, Joana Vasconcelos poderá continuar este diálogo com as árvores no parque da casa de campo Waddeston, no Reino Unido, nas próximas semanas. Neste grande edifício, perto de Oxford, Lord Jacob Rothschild pediu-lhe para instalar outra obra monumental: um Bolo de casamento (ou “bolo de casamento”), que será inaugurado no dia 8 de junho. Este gigantesco pastel, não em creme mas em cerâmica, tem uma escada circular ao centro que permite subir a uma altura de doze metros e dominar as matas circundantes. “A ideia era transformar os visitantes nesses pequenos personagens que ficam em cima das peças montadas durante os jantares de casamento. Mas dali também podemos conversar com as árvores”, finaliza.


dmp

Alberta Gonçalves

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