AMSTERDÃ (Reuters) – A Espanha e Portugal estão a caminho de cortar coletivamente pelo menos 17 bilhões de euros (20 bilhões de dólares) de seus custos de serviço da dívida até o final de 2022, com sua onda de empréstimos de crise essencialmente subscrita pelo Banco Central Europeu.
A análise da S&P Global Ratings mostra que os dois países devem economizar, já que os rendimentos de seus títulos de 10 anos oscilam à beira de 0%, graças ao agressivo estímulo pandêmico do BCE, principalmente suas compras de títulos.
Nos dois países, os rendimentos caíram 40 pontos-base cada um neste ano, muito longe da crise da dívida de 2010-2012, quando o aumento dos custos dos empréstimos – no caso de Portugal, para 17% – forçou a dupla a aceitar resgates multibilionários de euros.
Gráfico: Rendimentos rumo a zero:
A análise do DZ Bank da Alemanha mostra que o BCE deve comprar todas as novas dívidas que o Tesouro da Espanha disse que emitirá este ano e mais de 80% das de Portugal.
E se os rendimentos de seus títulos caírem abaixo de zero, cobrando efetivamente dos investidores pelo privilégio de lhes emprestar dinheiro em 10 anos, os cálculos do serviço da dívida poderão ser revisados ainda mais para baixo.
Frank Gill, diretor sênior da equipe de soberanos da S&P Global, calcula que cada queda de 100 pontos-base no custo da dívida na emissão reduz as despesas com juros de Espanha e Portugal em relação ao produto interno bruto (PIB) em cerca de 0,1% no primeiro ano, e de 0,25% no ano seguinte.
Ele estima que as despesas com juros da Espanha cairão em torno de cinco bilhões de euros este ano – ou 0,4% do PIB.
E até o final de 2022, espera-se uma economia de mais de 16 bilhões de euros em relação aos cálculos da S&P antes da pandemia.
A poupança com juros de Portugal ascende a 0,2% do PIB ou cerca de 380 milhões de euros este ano, refere Gill e a poupança até ao final de 2022 deverá rondar os 840 milhões de euros.
Portanto, os investidores em títulos estão otimistas sobre o aumento constante da relação dívida/PIB, que terminará o ano em recordes acima de 120%.
Gráfico: Despesas com juros devem diminuir na zona do euro:
“De fato, (o BCE) está monetizando isso. A dívida não vai para os mercados comerciais”, disse Gill.
E uma vez que você considera os dividendos que os bancos centrais nacionais pagam a seus governos sobre suas participações nos títulos, “então o custo real da dívida é de fato zero. Por essa métrica, não custa nada emitir essa dívida.”
Gráfico: Índices de dívida da zona do euro permanecerão elevados após a pandemia:
MAIS QUEDAS
As medidas podem desalentar aqueles que viam a dívida espanhola e portuguesa como uma alternativa de maior rendimento à Alemanha e à França.
Mas investidores como Arnaud-Guilhem Lamy, gerente de portfólio do BNP Paribas Asset Management, dizem que os rendimentos de 0% têm apenas um impacto “psicológico” quando a taxa de depósito do BCE é de -0,50%.
Ambos os países ainda pagam rendimentos reais “positivos” – retornos após o ajuste pela inflação – raros entre as economias desenvolvidas.
Gráfico: Rendimentos ajustados à inflação de Espanha e Portugal:
Lamy vê, portanto, espaço para os títulos espanhóis e portugueses subirem ainda mais, até ficarem cerca de 25 bps acima dos rendimentos franceses de 10 anos, que atualmente oferecem cerca de -0,3%.
As perspectivas de outro rally de 10 bps ou mais, mais o backstop do BCE, devem continuar atraindo compradores.
“É muito difícil ter uma visão de longo prazo sobre algo que só tem um comprador grande e quase insensível ao preço no fundo”, disse Simon Bell, gerente de fundos da Legal & General Investment Management.
“Mesmo se você pensasse que a longo prazo a dívida era muito alta, realmente não é o momento de encarar isso com uma visão de longo prazo.”
Uma alternativa é mudar para a Itália, onde se pode ganhar 0,6% em títulos de 10 anos. A outra opção é apenas comprar dívidas espanholas e portuguesas de prazo mais longo, disse Lamy.
Os títulos portugueses de 10 anos oferecem cerca de 60 bps de valorização sobre a Alemanha, enquanto os detentores de dívida de 30 anos ganham 90 bps. A dinâmica é semelhante na Espanha.
À medida que os investidores migram para vencimentos mais longos, os rendimentos cairão mais rapidamente do que no curto prazo, previu a estrategista do Saxo Bank, Althea Spinozzi, em nota.
Enquanto isso, os prêmios pagos pelos títulos espanhóis e portugueses de 10 anos sobre os rendimentos alemães estão próximos dos mais baixos em mais de uma década.
Isso pode ser um lembrete do período que antecedeu a crise de 2010-2012, quando os investidores aceitaram com prazer os menores spreads.
Mas Yvan Mamalet, economista sênior do euro no Société Générale, diz que a dívida só se tornará problemática se o crescimento se recuperar, mas os governos continuarem a “ter altos déficits que aumentarão sua taxa de endividamento sem qualquer necessidade de apoiar a economia”.
Reportagem de Yoruk Bahceli; edição por Sujata Rao e Emelia Sithole-Matarise
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