Será este o fim do modelo português? O governo do socialista António Costa, no poder desde 2015, sem contudo ter maioria absoluta, governou graças a uma aliança que o ligava ao Bloco de Esquerda e ao Partido Comunista (PC), equipa que os portugueses costumam chamar de “ geringonça” – a “coisa”, a “coisa”. Esta aliança pretendia desvendar as medidas de austeridade implementadas entre 2011 e 2014 pela direita, quando Portugal estava sob a tutela dos seus credores internacionais.
Até então, o Portugal socialista parecia uma incongruência numa Europa predominantemente liberal. Mas a “geringonça” pode muito bem esmagar na votação em primeira leitura desta quarta-feira, 27 de outubro, o projeto de orçamento para 2022.
Primeiro o Bloco de Esquerda no domingo, depois o Partido Comunista na segunda-feira anunciaram alternadamente sua intenção de votar ao lado de toda a oposição de direita contra o projeto de lei das finanças, que agora parece destinado ao “fracasso”. Não pretendem contentar-se com o aumento das pensões ou com o aumento do orçamento do serviço público de saúde. Eles estão pedindo medidas adicionais, inclusive em termos do Código do Trabalho.
Um orçamento ou dissolução
“Minha posição é muito simples: ou há orçamento ou é dissolução” do Parlamento, trovejou o Chefe de Estado, argumentando que se não fosse encontrado um compromisso, como desejava, não hesitaria em acelerar um calendário eleitoral que preveja eleições legislativas apenas no outono de 2023.
Em caso de rejeição do projeto de orçamento, a queda do governo e a realização de eleições antecipadas certamente não são automáticas, mas o presidente _chamado a desempenhar o papel de árbitro em uma situação de crise_ tem o poder de dissolução. “Não queremos eleições, mas não as tememos”respondeu este fim-de-semana o primeiro-ministro António Costa, após uma reunião com os seus quadros.
Em 19 de outubro, ele alertou os líderes dos partidos radicais de esquerda que lhe permitiram chegar ao poder em 2015: “ Depois do terrível drama que vivemos com a pandemia, seria totalmente irracional adicionar dramas políticos a ela. A única coisa racional a fazer é passar o orçamento para continuar no caminho da recuperação “.
A união da esquerda está rachando
Essa união da esquerda, sem precedentes em quarenta anos de regime democrático, começou a rachar após a vitória dos socialistas nas eleições legislativas do outono de 2019. A lei financeira de 2021 foi adotada por pouco graças à abstenção da coalizão comunista-verdes e eleitos de um pequeno partido animalista, enquanto o Bloco de Esquerda já votava contra ao lado da oposição de direita.
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Atualmente, o Partido Socialista governa com 108 deputados de 230. Se quiser que o orçamento seja aprovado, deve obter a abstenção de pelo menos 8 deputados na quarta-feira. Após as eleições autárquicas do final de setembro, a oposição de centro-direita, que contra todas as probabilidades arrebatou a capital Lisboa aos socialistas, sente-se agora apta a ganhar as eleições legislativas de 2023 se por acaso acontecerem.
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