Cinco anos após a tragédia dos incêndios florestais, Portugal volta a estar à mercê do calor e da seca

Mas cinco anos depois, os incêndios estão mais uma vez devastando um campo que, com essas medidas de prevenção de incêndios mal aplicadas em florestas e plantações reduzidas a barris de pólvora por uma onda de calor escaldante e uma seca sem precedentes, está mais do que nunca exposta ao risco de destruição descontrolada.

“Não queremos que outras pessoas morram num incêndio”, disse Dina Duarte, chefe de uma associação que ajuda as vítimas do incêndio florestal no município central de Pedrogo Grande, o desastre mais mortífero da história moderna de Portugal.

“Queremos alertar que o que aconteceu em 2017 acontecerá novamente se não houver prevenção… que é o caso (no momento)”, disse ela à Reuters com uma estrela no fundo de eucaliptos e pinheiros cercados por vegetação seca, como um dos muitos incêndios florestais portugueses ativos nas proximidades.

Seguindo o exemplo de Pedro Grande, o governo investiu em drones e helicópteros de bombardeio de água, mas Duarte diz que grande parte do equipamento não está em uso e a legislação que impõe uma distância de 10 metros entre estradas e vegetação é amplamente ignorada na usina e regiões do norte.

Portugal e a vizinha Espanha também são particularmente vulneráveis ​​a condições cada vez mais quentes e secas – atribuídas ao aquecimento global pelos cientistas – que tornam os incêndios florestais mais frequentes e perigosos.

Uma expansão sem precedentes do “anticiclone dos Aores”, um sistema atlântico de alta pressão causado pelas mudanças climáticas, deixou a Península Ibérica no nível mais seco em 1.200 anos, e as chuvas de inverno devem diminuir ainda mais, segundo um relatório. mês na revista Nature Geoscience.

Este ano, quase 58 mil hectares foram destruídos pelo fogo, o maior desde 2017, e cerca de 96% de Portugal continental enfrenta seca severa ou extrema, disse a agência meteorológica IPMA.

REDUÇÃO DE TANQUES

Perto de Pedrgo Grande, ressurgiu uma aldeia que foi inundada em 1954 durante a construção da barragem do Cabril.

O reservatório está apenas 37% cheio, pois o nível da água, como a maioria das barragens portuguesas, foi reduzido para níveis abaixo da média histórica, à medida que interesses rivais competem por um recurso cada vez menor.

As barreiras são frequentemente usadas por bombardeiros de água, mas a capacidade reduzida significa menos reservas para apagar incêndios, disse Duarte.

Sessenta deles também fornecem hidroeletricidade e produzem 30% das necessidades de eletricidade de Portugal.

Grupos ambientalistas dizem que as empresas estão usando mais água do que precisam e, em resposta, o governo ordenou que várias barragens priorizassem o consumo humano de água sobre as necessidades das empresas.

“Não pode ser apenas lucro”, disse Duarte, apontando também para a agricultura intensiva. “Tem que haver uma consciência social e ambiental de que uma barragem precisa ser preparada para os verões (que) … provavelmente ficarão mais secos.”

A agricultura consome 75% do abastecimento de água de Portugal, mas um sistema de irrigação desatualizado desperdiça cerca de um terço, segundo a agência ambiental APA.

Os agricultores pediram às autoridades que modernizem a irrigação, melhorem o manejo florestal e invistam em tecnologias de dessalinização.

NOSSOS NETOS VÃO SOFRER

Sob um sol escaldante, Igor Pedro, que cria vacas, ovelhas e cabras em uma fazenda no centro de Sert, disse que a escassez de água também teve um grande impacto sobre os animais, pois a vegetação rasteira que costumavam comer desapareceu.

“Não podemos dar ordens (de Deus)…” disse o homem de 38 anos. “Temos que enfrentar o que está por vir, mas não parece estar melhorando.”

O açougueiro Antnio Simes, que tem uma loja perto da fazenda, disse que a seca, juntamente com a inflação descontrolada da invasão da Ucrânia pela Rússia, elevou seus custos de produção em cerca de 70%.

Se a seca piorar como esperado, o empresário de 66 anos pode não ter escolha a não ser fechar o negócio da família: “Não sei se podemos continuar porque há limites”.

Manuel Lopes, 67 anos, olivicultor, teme que um grande incêndio perto de sua plantação no norte do distrito de Mura reduza suas árvores a cinzas.

“A seca era extrema… Não havia chuva e nem inverno…”, disse. “Nossos netos… sofrerão se isso (mudança climática) não parar.”

Chico Braga

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