“A maioria absoluta não é poder absoluto, não é governar sozinhovsé uma responsabilidade, é governar com e para todos os portugueses. » Com quase 42% dos votos e pelo menos 117 dos 230 lugares na Assembleia da República (a aguardar a contagem dos votos dos portugueses residentes no estrangeiro), o primeiro-ministro de Portugal, António Costa, coloca-se como unificador, tarde da noite de domingo 30 de janeiro para segunda 31 de janeiro, da sede do Partido Socialista, em Lisboa, onde comemorou a vitória esmagadora nas eleições legislativas antecipadas.
O socialista ganhou sua aposta. Ao final do escrutínio, não só confirma o seu mandato, como obtém a maioria absoluta que tem pedido constantemente aos eleitores nas últimas semanas. Vai permitir-lhe governar com liberdade, sem depender dos seus antigos aliados de esquerda – nem o partido de esquerda radical Bloco nem o Partido Comunista Português (PCP). Em outubro de 2021, estes dois partidos recusaram-se a apoiar a lei das finanças de 2022, que consideravam pouco ambiciosa em termos de investimento público e de medidas sociais, precipitando assim a realização de eleições antecipadas.
“Sem maioria estável, passaremos de crise em crise”, martelou durante a campanha o Sr. Costa, que não quis ceder às exigências dos dois partidos à sua esquerda, com os quais governou como pôde nos últimos seis anos. Essa frágil união de esquerdistas, pejorativamente apelidada de “geringonca”a “coisinha”, havia permitido que o socialista tomasse o poder da direita, mas saiu por cima em 2015. Ela sobreviveu.
“Uma concentração do voto útil”
Com 4,5% dos votos e cinco deputados, catorze a menos do que nas eleições legislativas de 2019, o Bloco é o principal perdedor da votação. De terceira força política, passou para a sexta posição em um tabuleiro de xadrez político recomposto. “Senhor. Costa criou uma crise artificial para obter a maioria absoluta. Sua chantagem parece ter sido bem sucedida. A falsa bipolarização provocou uma concentração do voto útil, que penalizou a esquerda”, comentou, amarga, a líder do Bloco, Catarina Martins. Mesmo diagnóstico entre os comunistas, que se contentam com 4,4% dos votos e cinco cadeiras, sete a menos que em 2019.
Este colapso das esquerdas alternativas permite ao partido de extrema-direita Chega (“chega”) ocupar a terceira posição, com 7,5% dos votos e doze deputados. Ele ganhou apenas 1,3% dos votos e apenas um assento nas eleições legislativas de 2019, que o viram explodir no cenário político português. “A partir de agora, no Parlamento, não haverá apenas uma bela oposição a António Costa”proclamou no domingo, eufórico, o seu presidente, André Ventura, propondo “ restaurar a dignidade deste país”. Este ex-comentarista esportivo se opõe ao aborto, a favor da pena de morte, e lida de bom grado com discursos populistas com conotações racistas – ele havia proposto notadamente o confinamento de viajantes durante a pandemia.
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