Esta é uma situação bastante incomum nesta temporada. A Espanha, como o vizinho Portugal, será atingida por uma seca precoce e extrema neste inverno, como resultado das baixas chuvas em janeiro. Segundo as autoridades meteorológicas locais, o mês passado já é considerado o segundo mais seco desde 2000 na Península Ibérica.
Esta seca é excepcional pela “sua intensidade, magnitude e duração”, disse Ricardo Deus, climatologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Na Espanha, “em janeiro choveu apenas um quarto do que deveria ter chovido no momento”, explica Ruben del Campo, porta-voz doAEMETa agência meteorológica espanhola.
As ruínas visíveis de uma aldeia debaixo de água devido à construção de uma barragem
“Nunca vi isso”, lamenta Carlos Perdigão, 76 anos, que pesca regularmente nas margens do rio Zêzere em Portugal, cercado por grandes extensões de terra amarela rachada. Antes dele, as ruínas de Vilar, uma antiga aldeia de pedra que foi inundada pelo rio após a construção de uma grande barragem há quase 70 anos, vêm à tona há algumas semanas e são novamente visíveis devido ao nível de água muito baixo. †
Esta situação inusitada já levou o governo português a tomar medidas de emergência. Num país onde quase 30% da energia consumida é de origem hidráulica, as autoridades foram obrigadas no início de fevereiro a anunciar a suspensão da produção hidroelétrica de cinco barragens para “manter os volumes necessários ao abastecimento público”. Do outro lado da fronteira, o ministro da Agricultura espanhol, Luis Planas, expressou sua “preocupação” e garantiu que o governo tomaria “as medidas necessárias”. Os níveis dos reservatórios de água, essenciais para a agricultura, são inferiores a 45% de sua capacidade. As regiões mais afetadas são Andaluzia (sul) e Catalunha (nordeste).
Cada vez menos anos chuvosos
Esta baixa pluviosidade, que se mantém desde o final do ano passado, preocupa agricultores e pastores de ambos os países. “Olha, a grama não cresce para alimentar os animais”, diz Antonio Estevão, produtor de queijo com um rebanho de cabras, na Portela do Fojo Machio, centro de Portugal. “Se não chover nos próximos dias, será muito complicado. †
A alternância entre anos de seca e de chuva é normal no sul da Europa, mas “recentemente vimos uma percentagem de anos de chuva em declínio”, salienta Filipe Duarte Santos, investigador da Faculdade de Ciências de Lisboa, capital portuguesa, e especialista em ambiente. Essas secas são “um dos impactos mais graves das mudanças climáticas”, explica. Segundo ele, o problema continuará até que não reduzamos significativamente as emissões globais de gases de efeito estufa. No curto prazo, a situação não deve melhorar nos próximos dias, pois as previsões em ambos os países apontam para precipitação abaixo da média sazonal.
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