“O rugby não paga as contas em Portugal”: Tomas Appleton, capitão dentista no Mundial

“Não sei se você sabe, mas na verdade, a maioria de nós somos amadores. » No final do primeiro jogo de Portugal neste Mundial, o capitão Tomas Appleton tinha motivos para estar orgulhoso dos seus homens. Apesar da derrota (28-8) sofrida frente ao País de Gales, Os Lobos (Os Lobos, apelido da selecção) mostraram coisas muito boas no regresso a este escalão pela primeira vez desde 2007. Tudo numa selecção semi-profissional liderada por um dentista.

Símbolo absoluto deste Portugal a duas velocidades, Thomas Appleton. Paralelamente à sua posição de capitão dos Wolves e Lusitanos XV (a franquia portuguesa da SuperTaça Europeia de Rugby), o versátil três quartos dirige o seu próprio consultório dentário em Lisboa. Possuidor de dois mestrados em cirurgia oral e implantologia, o jovem de 30 anos acaba de começar a estudar medicina, por falta de rendimentos graças ao rugby.

“O rugby não paga as contas em Portugal”, recorda em entrevista ao diário britânico The Guardian. Titular do Centro Desportivo Universiatrio Lisboa (CDUL), quinto classificado do campeonato português na época passada, Tomas Appleton só pode jogar a tempo parcial pelo seu clube num campeonato nacional composto por 90% de amadores.

“Carisma e talento”

Então é toda uma vida dupla que precisa ser organizada. “O mais importante é a gestão do tempo. Sempre convivi com isso, na escola e no rugby, onde comecei a jogar aos 6 anos. Quer fosse em termos de estudos ou de rugby, era cada vez mais difícil. Mas estamos habituados”, confidencia. as colunas do sudoeste.

Em 2015, Tomas Appleton tentou dar o grande salto para o rugby profissional aos 22 anos. Vá ao Darlington Mowden Park, na National League One, na Inglaterra, para uma visita bastante bem-sucedida. Mas a obrigação de concluir os estudos e o lugar garantido na selecção nacional de rugby de sete trouxe-o finalmente de volta à razão na capital portuguesa. “Eu sabia que se não tentasse naquela época, nunca mais tentaria”, explica ele hoje.

Sem nunca mais encontrar esse alto nível, Tomas Appleton começou a trabalhar no país até se tornar um dos homens fortes do técnico francês Patrice Lagisquet. “Ele é uma grande personalidade. Ele tem carisma, é icônico e talentoso em todos os níveis. E então isso me leva de volta à época do meu próprio amadorismo, quando comecei. Consigo fazer a ligação, entender essas questões”, afirma o técnico francês, sempre para o Sudoeste.

“Fazer com que os jovens joguem rugby”

Mas ele está longe de ser o único. Ao lado dele encontramos um corretor de seguros, ou outros executivos seniores. “Amadores esclarecidos que ganham um pouco de dinheiro”, como gosta de descrevê-los o treinador. Com menos de 7.000 membros, o rugby em Portugal continua sombrio, apesar do regresso dos Lobos à linha da frente. O rugby neste país luta para se expandir para além de um “ambiente fechado e um tanto elitista”, observa o jornalista Antonio Aguilar, referência na disciplina e comentarista de partidas transmitidas pela televisão.

“O rugby é um esporte praticamente familiar, que passa de pai para filho ou entre amigos”, continua o ex-jogador, cujo filho, também chamado Antonio, esteve presente na Copa do Mundo de 2007. Prova disso também se encontra em Tomas Appleton, que ingressou na elite portuguesa graças ao seu irmão mais velho, Francisco, que acabou por abandonar a selecção para um cargo de advogado em Londres.

“No final, queremos apenas inspirar as novas gerações, e incentivar os jovens a jogar rugby (…) Estamos mais orgulhosos da presença dos nossos adeptos em Nice, e do que construímos ao longo dos anos, do que do resultado esta noite”, assumiu o capitão dos Wolves no final do primeiro jogo perdido frente aos galeses.

Um objectivo partilhado pelo presidente da Federação Portuguesa de Rugby, Carlos Amado Silva. “Em termos de visibilidade e interesse da população, o reconhecimento desta modalidade não é o que gostaríamos”, lamenta. Segundo ele, seriam necessários quase 20 mil licenciados a mais para atingir esse marco. Assim, esta Copa do Mundo e as atuações dos companheiros de Tomas Appleton ganham uma dimensão particular: “O objetivo esportivo é ir à Copa do Mundo na Austrália. Internamente, é para aumentar a conscientização sobre o rugby. »

Aleixo Garcia

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