Fonte das revelações do “Football Leaks” sobre os bastidores do negócio do futebol, o português Rui Pinto foi condenado na segunda-feira pelo tribunal de Lisboa por pirataria informática e tentativa de extorsão contra um fundo de investimento desportivo, recebendo pena suspensa por quatro anos de prisão.
Arguido e testemunha protegida pela justiça do seu país, o jovem de 34 anos reivindicou o papel de denunciante, mas admitiu perante os seus juízes ter cometido invasões informáticas ilegais para obter milhões de documentos que começou a publicar directamente na Internet em final de 2015.
Transmitida a um consórcio de meios de comunicação investigativos europeus, esta riqueza de informações destacou práticas questionáveis envolvendo craques, clubes e agentes, que foram então objeto de ajustes fiscais e investigações legais em vários países.
Desde os salários de Lionel Messi ou Neymar até uma acusação de violação contra Cristiano Ronaldo, entretanto rejeitada, passando pelas estratégias de evasão do fair play financeiro do Manchester City ou pelo registo étnico no Paris Saint-Germain, o planeta do futebol ficou profundamente abalado com esta gigantesca fuga de informação. de informação.
“Fiquei indignado com o que descobri e decidi torná-lo público”, declarou Rui Pinto na abertura do seu julgamento, em setembro de 2020, acrescentando que os “Football Leaks” foram “um motivo de orgulho e não de vergonha”.
“Enorme estupidez”
A presidente do tribunal de Lisboa, Margarida Alves, considerou, no entanto, na segunda-feira que “a liberdade de informar não justifica a violação da vida privada”.
“Esta decisão reconhece que houve um serviço público”, notou o advogado de Rui Pinto, Francisco Teixeira da Mota, à saída do tribunal, congratulando-se com o facto do seu cliente ter escapado da prisão.
Sobre a acusação de tentativa de extorsão, “o tribunal não teve dúvidas. (…) Ficou claramente estabelecido que ele (Rui Pinto, nota do editor) queria receber dinheiro”, afirmou a juíza Margarida Alves.
Segundo a acusação, os portugueses queriam chantagear o chefe da Doyen Sports, o seu compatriota Nélio Lucas, exigindo entre 500 mil e um milhão de euros para deixar de publicar documentos comprometedores.
Foi uma denúncia deste fundo de investimento sediado em Malta e controlado por uma família de oligarcas cazaque-turcos que colocou a polícia portuguesa no encalço do “hacker” autodidata, originário da região do Porto (norte).
Durante o seu julgamento, Rui Pinto lamentou ter cometido “um grande erro”, garantindo que nunca teve intenção de levar a cabo a sua chantagem.
“No essencial, os factos descritos (na acusação, nota do editor) foram considerados provados”, afirmou Margarida Alves durante a leitura do acórdão que, aliás, condenou Rui Pinto ao pagamento de um total de 22 mil euros para indemnizar as suas vítimas.
Novas acusações
Embora tenha sido responsável por um total de 89 crimes informáticos, Rui Pinto foi condenado por cinco crimes de “acesso ilegítimo” a sistemas informáticos e três crimes de “violação de correspondência agravada”, disse, especificando que beneficiou parcialmente da amnistia concedida. pelo governo português por ocasião da visita do Papa Francisco no início de agosto durante a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa.
Com uma máscara cirúrgica no rosto e o seu look habitual – cabelo escovado, camisa azul escura, calças de ganga e ténis – Rui Pinto apareceu livre. No entanto, a decisão proferida na segunda-feira não porá fim aos seus problemas com a justiça portuguesa, tendo o Ministério Público elaborado recentemente uma nova acusação que o acusa de 377 novos crimes informáticos que alegadamente cometeu entre 2016 e 2019 contra cerca de 70 pessoas. , empresas ou instituições.
Preso em janeiro de 2019 na Hungria, onde vivia, e depois extraditado para o seu país, Rui Pinto passou mais de um ano em prisão preventiva antes de aceitar cooperar com as autoridades noutros casos, permitindo-lhes o acesso aos dados encriptados que tinha. em sua posse.
A França solicitou também a colaboração dos portugueses, que também está na origem do “Luanda Leaks”, investigação publicada em Janeiro de 2020 que acusa a empresária Isabel dos Santos, filha do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos, de ter acumulado um imenso fortuna fraudulentamente durante o reinado de seu pai.
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