O Partido Socialista Português, e o seu atual primeiro-ministro António Costa, acabam de vencer as eleições legislativas antecipadas com maioria absoluta. Uma votação ainda anunciou muito perto. Em novembro passado, o governo português e com ele o Partido Socialista viveram uma crise sem precedentes, pois pela primeira vez desde o fim da ditadura em 1974, o Orçamento do Estado não foi aprovado pela Assembleia da República Portuguesa. Com a esquerda quebrada, a direita (PSD) parecia em boa posição para tentar reconquistar um governo que está nas mãos dos socialistas desde 2015.
Olhando mais de perto os resultados: como o PS ganhou em grande parte essas eleições parlamentares de 2022?
As sondagens previam uma batalha acirrada entre os dois principais partidos do país, o PS e o PSD. Estes foram amplamente rejeitados desde que o Partido Socialista conquistou 41,7% dos votos (36,3% em 2019), garantindo a maioria absoluta pela segunda vez em sua história, com um total de 117 deputados de 230. Desde 2015, o PS precisou de dois outros partidos de esquerda, o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda (BE), mais radical, para conquistar essa maioria absoluta. Estes dois partidos, que consumiram esta aliança votando contra o Orçamento do Estado em novembro, viram-se de certo modo “punidos” pelo eleitorado português, dando ao PS a oportunidade de governar sozinho. Com efeito, o Bloco de Esquerda e o PCP (em aliança com os Verdes) perderam ambos muitos eleitores e, portanto, assentos na Assembleia da República, de 19 para 5 assentos para o BE e 12 para 6 assentos para o PCP, respetivamente. Estes resultados muito decepcionantes para estes partidos de esquerda confirmam o que alguns observadores políticos qualificaram de traição durante a recusa de aprovar o Orçamento do Estado. Além disso, face aos resultados das eleições de 2019, o PS ganhou cerca de 380.000 votos a mais, enquanto BE e PCP teriam perdido cerca de 350.000. Estes números, complementando-se, mostram que os eleitores portugueses passaram a apoiar o PS, ao meio de um voto que pode ser considerado “útil”.
A lei portuguesa foi dividida
Esta vitória esmagadora do PS levou a um resultado decepcionante para o partido de direita PSD, com “apenas” 29% dos votos, mais 1,2 pontos em relação a 2019, ainda abaixo das expectativas do presidente do partido, Rui Rio. Esta pontuação mista é explicada principalmente pelo facto de a direita estar muito dividida durante as eleições, com a participação de partidos como a Iniciativa Liberal (5%) e o Chega, um partido de extrema-direita (7,2%). Enquanto esses dois partidos tinham apenas um deputado cada, eles agora têm 8 e 12, respectivamente, na extrema direita. No entanto, ao tirar a terceira pontuação desta eleição, o Chega acaba de ocupar um lugar significativo na esteira política do país.
Quais são os desafios para o novo governo português?
Imediatamente após a sua vitória, António Costa insistiu que a vitória do Partido Socialista por maioria absoluta não deve ser confundida com o conceito de “poder absoluto”. O PS será capaz de governar de forma eficaz sem comprometer constantemente com a esquerda radical, como era o caso antes. No entanto, Costa ainda defendia “confiança e estabilidade”. Foi precisamente nestas eleições que o PS aproveitou a confiança dos portugueses. Com efeito, sob o mandato de António Costa, Portugal regressou a alguma prosperidade económica, nomeadamente com o primeiro excedente orçamental da história do país em 2019. A gestão da crise sanitária tem sido também um dos pontos fortes do governo, com um dos maior cobertura vacinal do mundo. O objetivo num futuro próximo será certamente reanimar a economia do país assolada pela crise sanitária com a ajuda do Plano Europeu de Investimento, do qual Portugal foi o primeiro país a apresentar o seu dossiê.
O primeiro prazo importante para o governo e o PS é a nomeação dos Vice-Presidentes da Assembleia da República. O Chega, que é agora o terceiro maior poder político do país, tem o direito de facto de nomear um vice-presidente, sujeito à aprovação da maioria dos deputados. Se Rui Rio (PSD) já confirmou que não vai se opor a essa nomeação, os deputados socialistas certamente vão se opor e já existe uma brecha contra essa possibilidade.
Por fim, a composição do novo governo, que deveria ser anunciada em 23 de fevereiro, foi adiada para o início da primavera, na sequência da anulação pelo Tribunal Constitucional dos votos dos portugueses residentes na Europa. Com efeito, o tribunal decidiu que o voto dos portugueses da Europa não estava de acordo com o processo legal oficial. A votação terá lugar novamente em 12 e 13 de março e o resultado será anunciado em 25 de março. O novo governo, portanto, não deve tomar posse até abril do próximo ano.
O que sabemos até agora é que o futuro governo precisa ser “mais leve e mais rígido”. A ministra da Justiça Francisa Van Dunem não vai retomar a sua pasta no novo governo e o ex-socialista lisboeta Fernando Medina está a ser cotado para um cargo no próximo governo.
O ano de 2021 foi marcado pelas eleições municipais em setembro e depois pela recusa em aprovar o Orçamento do Estado em novembro. Da mesma forma, a crise sanitária continua a ter um grande impacto na vida de milhões de portugueses, económica, social e até na liberdade. A composição deste novo governo deverá, em princípio, permitir ao país olhar para o futuro com alguma estabilidade.
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